sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Memória musical

Em Tesouro em caixa de papelão, uma das crônicas do livro Nunca Subestime uma Mulherzinha, Fernanda Takai fala sobre um cantor português bastante extravagante da década de 1980, que morreu ainda jovem. Tempos depois, seu irmão resolveu mostrar a amigos uma caixa cheia de cassetes e fitas de rolos com canções dele, muitas inéditas. Posteriormente, estas foram reunidas em um projeto com outros artistas portugueses e lançadas com muito sucesso.

O acaso foi o bastante para que Fernanda fizesse um paralelo com um fato que lhe aconteceu em 2007. Ao visitar sua mãe, esta lhe mostrou duas caixas repletas de fitas cassetes da família com músicas gravadas entre 1970 e 1990. Essas músicas, selecionadas de acordo com o gosto familiar, eram ouvidas, sobretudo, nas viagens que faziam de carro, ou seja, verdadeiras jóias. Ao ouvi-las naquele momento da desvoberta, sua memória retornava no tempo, fazendo-a reviver as viagens, a paisagem da estrada, as frases dos para-choques dos caminhões à frente.

– A música tem esse efeito mágico de nos transportar pelo tempo. Pelo passado, principalmente. – diz ela no texto.

Não pude deixar de ficar tocada com a crônica. É que ultimamente tenho lembrado muito das músicas que ouvia na minha infância. Talvez seja pelas recentes festas do final do ano, época em que as canções natalinas são reacendidas no imaginário popular e também exaustivamente executadas em apresentações de corais e concertos musicais. Muitas delas eram tocadas na “vitrolinha” de casa, naqueles discos de vinil pequeno.

Meus pais não eram músicos, mas gostavam de ouvir canções e faziam questão de passar esse gosto para mim e para minha irmã. Assim, ouvíamos músicas de vários estilos, que passavam do clássico para o bolero, para o tango e populares, até o religioso. Uma miscelânia que fez com que apreciássemos diversos ritmos.

Com o passar do tempo começamos a ter os nossos próprios gostos e repertórios. De Jovem Guarda a Tropicália e Bossa Nova até Beatles, Carpenters, Queen e o rock nacional dos anos de 1980, aportando na clássica MPB, mas aquelas primeiras músicas ouvidas na infância ficaram, sem dúvida, gravadas dentro de nós, e não tem como esquecê-las, de forma que ouvi-las hoje em dia é dar um passeio pela nossa história, pela história da minha família.

Mais tarde minha irmã se casou e teve dois filhos, aos quais fiz questão de passar a nossa memória musical. Lembro dos finais de semana em casa, quando meu aparelho de som não parava de tocar CDs de vários estilos, contemplando ainda um pouco do gosto de cada um. Fazíamos um pot-pourri bastante eclético que embalava as tardes e nos divertia muito.

Hoje, meus sobrinhos já são adultos e, é claro, têm as suas preferências musicais, só ouvindo o que gostam, sem espaço para nostalgia. Mas, quem sabe um dia, eles acabem se lembrando daquelas primeiras músicas escutadas na infância, fazendo reviver assim a memória musical da família, que também é a deles.

É mais ou menos como Fernanda termina a crônica em referência a caixa com o achado musical:

– Um dia quero que minha filha também encontre um tesouro assim.

5 comentários:

  1. nossa eu ja encontrei varios tesouros!!!!
    e amei!!! ney matogrosso foi uma descoberta!!!

    só ouço "velharias" srsrsrr



    bjs

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  2. Depois de morar fora, aprendi a apreciar musicas de outros Paises: indiana, chinesa, russa, arabe, etc e tambem aprendi a ouvir opera, atraves de apresentaçoes belissimas com traduçao. Estar aberta a novos sons é experimentar um mundo novo!
    Beijos, Cris

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  3. Enquanto lia seu texto, viajei. Pude alcançar memórias muito bem guardadas, de primos desesperados ajustando a antena do velho rádio AM para ouvir os últimos lançamentos. Mas outras tantas lembranças vieram, e ainda bem que o texto acabou, senão pararia de trabalhar, voltaria para casa, desligaria as luzes, cataria a velha caixa de fitas cassetes e ouviria as músicas preparadas para meu casamento. Belo texto, prima!

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  4. Raivinhaaa eu postei um comentário mas ele se foi. vou tentar novamente.

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  5. Que lindo o que você colocou em foco; Eu tenho uma caixinha aqui com várias fitinhas dessas... Qualquer hora eu vou fazer essa viagens nostálgica. Eu sempre acreditei que nossa vida tem uma trilha sonora, digo os momentos... São tantos, por isso tantas fitas; CDs atualmente ou apenas mp3, porém sempre canções, que acordam nosso incosciente sempre presente. BRAVO cica

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