quarta-feira, 9 de junho de 2010

Médico de homens e de almas

Título é tudo em um texto. É por meio dele que a pessoa travará o primeiro contato com a narrativa e, se form bastante atrativo, pode conquista o leitor de imediato. Por outro lado, se o que se segue a ele não for bom o suficiente, a estratégia inicial acaba seno inócua. Isso até me faz lembrar de um post sobre o filme Viajo porque preciso, volto porque te amo, dos cineastas Marcelo Gomes e Karim Aimouz, que li hoje no blog Narrativas e Divagações, da Erika Pereira. ela diz que foi ver o filme pelo título, mas que acabou se decepcionando com o desenrolar da trama, que não explicou a que veio afinal. É, isso acontece.

Mas, o que tudo isso tem a ver com o título que escolhi para abrir este post, afinal? Bom, eu chego lá. É que ele tem relação com aquilo que vou contar, ainda que à primeira vista possa parecer que eu queira falar sobre o livro da escrítora britânica Taylor Caldwell, que tem o mesmo título e narra, de maneira emocionate, a vida de São Lucas, um dos apóstolos de Jesus Cristo. Só a título de curiosidade, a autora levou 46 anos para concluir o texto dessa que seria a sua obra-prima.

Ontem, quando passei pelo ortopedista para uma consulta sobre problemas na minha coluna, o médico, jovem por sinal, me surpreendeu, ao me indagar, quando soube qu eu sou jornalista:
Então, você gosta de ler?
– Se eu gosto de ler? – Fiquei confusa, pois não esperava pela pergunta. – Sim, gosto muito.
– E você deve ler de tudo, não?
– Leio muitas coisas.
– Eu também gosto de ler. Sempre antes de dormir eu leio um pouco. Domingo mesmo terminei um livro, daquela autora de Médico de Homens e Almas, como é mesmo o nome dela?
– Sim, Taylor Caldwell.
– Isso mesmo e agora peguei este outro para ler – disse o médico, erguento um exemplar de O Acerto Final, de Sam Bourne, pseudônimo do premiado jornalista inglês Jonathan Freedland.
– Ah, esse eu não conheço.
Ler expande os horizontes, traz conhecimento sobre várias coisas e as pessoas e a gente aprende a escrever melhor.
– Que bom um médico pensando assim.
– É que minha mãe sempre incentivou a leitura em casa.

Falamaos ainda mais um pouco sobre livros e depois a consulta continou, com solicitação de exames e prescrição de receita. Quando já ia saindo, ele novamente me surpreendeu arrematando:
– E eu sou contra o livro digital.
– Eu também – respondi.
– Essas coisas de tecnologia eu não entendo muito bem. (Bom, na verdade não sou contra, apenas prefiro o impresso).

Achei graça em tudo aquilo e queria ser simpática, mas vibrei por dentro ao saber que profissionais da saúde buscam na literatura um universo maior para a compreensão do humano. Pensando nisso, lembrei que em 2007, fiz uma matéria sobre as atividades do Laboratório de Humanidades, da Unifesp 0 Universidade Federal de São Paulo, na Vila Mariana, onde semanalmente um grupo de 25 alunos da graduação e pós-graduação da área da Saúde se encontram para falar de Literatura.

O grupo é coordenado por Dante Marcello Claramonte Gallian, diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Unifesp, e Rafael Ruiz, professor do curso de História do campus de Guarulhos. As atividades tiveram início há sete anos, aproximadamente, para dar continuidade às aulas das disciplinas de Literatura, História e Cinema, dos cursos de graduação em Biomedicina, Enfermagem e Medicina da universidade.

"O objetivo é resgatar o lado humano do profissional da saúde e valorizar as relações do médico com o paciente, do cientista com os aspectos morais e éticos da Ciência e do profissional consigo mesmo", Dante me explicou na ocasião da entrevista. Para ele, apesar de toda a tecnologia e da evolução de Medicina, que contribuem para salvar vidas, "os profissionais da saúde continuarão enfrentando limitações e dificuldades que exigirão mais do que o conhecimento científico-tecnológico para que possam ser superadas. Daí a importância de uma (re)humanização da medicina, de se desenvolfer e fornecer recursos humanístocos para o processo de formação e de atuação do médico e dos cientístas da saúde em geral".

O Laboratório de Humanidades é uma atividade essencialmente acadêmica, mas é aberto à comunidade. Eu mesma tive a oportunidade de participar desses encontros, primeiro como jornalista, depois como integrante do grupo. Nessas oportunidades, discutimos dois livros: Frankenstein, de Mary Shelley, e Sonho de Um Homem Ridículo, de Dostoiévski.

Nesses encontros não é contada a história do livro, mas sim a história de leitura, ou seja, a maneira como o livro foi lido e quais os sentimentos, as impressões, os afetos despertados durante aquela leitura. Primeiramente são discutidas ideias e, numa segunda etapa, questões mais filosóficas do livro. É bem interessante. Pena que não pude mais continuar por problemas de horários.

Não queria me estender tanto, mas achei que o assunto merecia uma reflexão maior. O livro e a sua leitura não se restringem apenas a um grupo de intelectuais da área de Humanas. eles são universais e abertos a todo aquele que se dispuser a dedicar parte de seu tempo e de sua vida a essa grande aventura que é a literatura.

Acho que no final, o título caiu bem, mesmo porque aquele médico ortopedista citou ele.
Se quiser saber mais sobre as atividades do Laboratório de Huamnidades, acesse

* A imagem acima é reprodução da matéria sobre o Laboratório de Humanidades, que fiz para a revista Saúde Paulista, da Unifesp, em dez./2007.

2 comentários:

  1. oi, Cicinha!
    eu dou risada quando vejo os titulo de filme em portugues, a maioria nao tem nada a ver com o titulo original, rs
    bjs, Cris

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  2. SEMPRE COISA BOA nesse blog liiiindo!!! adorei essa dica! já vou ler sobre esse grupo!

    beijos!!

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