quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ouvir é ler

Setembro é o mês da Bíblia na igreja Católica, instituição que busca, neste período, intensificar mais a reflexão das leituras do Novo e do Velho Testamento, embora, é claro, todo dia é uma oportunidade incomensurável para se debruçar sobre as páginas do Livro Sagrado.

Bíblia é uma palavra que vem do grego, que quer dizer “rolo” ou “livro” e constituiu-se no texto religioso central do cristianismo. A Bíblia é uma coleção de livros catalogados, considerados como divinamente inspirados pelas três grandes religiões dos filhos de Abraão – cristianismo, judaísmo e islamismo.

O Livro Sagrado foi escrito ao longo de um período de cerca de 1.600 anos, por 40 homens das mais diversas profissões, origens culturais e classes sociais, segundo a tradição judaico cristã. Compõe-se de duas partes: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Com relação ao primeiro, há divergências entre católicos e cristãos da quantidade de livros escritos, em torno de 46. Já o Novo Testamento conta com 27 livros.

Seja como for, lembrei-me, há pouco tempo, de uma passagem da Bíblia, mais especificamente do Novo Testamento, que é uma das minhas preferidas. É do Evangelho de São Lucas, o terceiro de um total de quatro, que narra a história da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

O trecho é curtinho e encontra-se no capítulo 10, versículos 38-42. Começa assim:

“Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse:
– Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!
O Senhor, porém, lhe respondeu:
– Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.”

Sempre que escuto – escuto é a palavra certa, já que o ouço na igreja – este trecho mais reflexões tiro dele. Mas não vou me alongar muito. Penso que é como se eu estivesse lendo o texto e fico a imaginar Marta, atarefada, arrumando a casa e preparando a refeição para bem agradar ao Senhor; e Maria, a deixar tudo o mais de lado para sentar-se aos pés de Cristo e aprender seus ensinamentos. Ambas querem agradar a Ele, mas é Maria quem melhor faz isto, pois não se furta da companhia do Mestre e de apreciar suas sábias palavras. E ainda há um outro detalhe: numa época em que as mulheres eram relegadas a segundo plano, Maria teve o privilégio de receber os ensinamentos do próprio Senhor. E isso não era pouca coisa, ao contrário, por isso ela escolheu a melhor parte e esta não lhe seria tirada. Maria preferiu ficar ouvindo Cristo, refletindo suas palavras e assimilando sua mensagem, como se estivesse lendo. Acho que ouvir é também ler, como escrever é falar.

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