segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vlado

Em sua 32ª edição, o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos recebeu, este ano, mais de 300 trabalhos – reportagens relacionadas aos direitos humanos – vindos de todas as regiões brasileiras. Os vencedores (confira no site http://www.premiovladimirherzog.org.br/), nas 10 categorias – rádio, jornal, TV reportagem, TV documentário, TV imagem, fotografia, arte, revista, rádio e internet – receberão o prêmio hoje, dia 25 de outubro, data em que se comemora os 35 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog.

Nascido Vlado Herzog, em 1937, na Croácia, Vladimir (nome adotado ao se naturalizar brasileiro) foi jornalista, professor e dramaturgo. Meu interesse por esse personagem da vida real surgiu quando era estudante de jornalismo, em 1979, quatro anos depois da sua morte misteriosa, nos porões do DOI-CODI, em plena ditadura militar.

Mas foi somente dez anos depois dos acontecimentos que eu pude compreender melhor sua história, ao ler Vlado – retrato da morte de um homem e de uma época, do jornalista Paulo Markun, que foi amigo de Herzog. O livro mostra quem foi Vlado, por que ele foi preso e o que acontecia no DOI-CODI, revelando como sua morte repercutiu dentro dos altos escalões do governo.

A obra traz ainda depoimentos daqueles que conviveram, pessoalmente ou profissionalmente, com Herzog, e informações colhidas de documentos oficiais, como o IPM – Inquérito da Polícia Militar, e notas em periódicos.

Vlado foi militante do PCB - Partido Comunista Brasileiro (que no período da ditadura era proibido, mas existia clandestinamente) e lutava abertamente pela restauração da democracia no país.

Em 1975, ele era diretor de jornalismo da TV Cultura, de onde foi convocado pelos agentes do II Exército a prestar depoimento sobre as ligações que mantinha com o PCB. Herzog compareceu no dia 24 de outubro ao DOI-CODI, local onde foi torturado. Junto a ele estavam os jornalistas George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder, que confirmaram o seu espacamento.

No dia seguinte, Vlado foi encontrado morto, em sua cela, tendo um cinto amarrado ao pescoço, sugerindo suicídio, por enforcamento. Os militares apressaram em divulgar a foto de Herzog sem vida para justificar a causa da morte.

A sociedade, no entanto, não aceitou a versão oficial e saiu às ruas para protestar, tendo em vista haver várias inverdades, como o fato dele ter se enforcado com um cinto, objeto que os prisioneiros não possuíam. As pernas, além disso, estavam dobradas e no pescoço apenas duas marcas de enforcamento, o que supõe que sua morte deu-se por estrangulamento.

Vlado era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem tinha dois filhos. Tendo passado por maus momentos após a morte do marido, Clarice conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte de Vlado. Contribuiu para isso a mobilização da sociedade brasileira e da imprensa que, incorformadas com o regime, aceleraram também o início das discussões pela redemocratização do país.

Trinta anos após a morte de Vladimir Herzog e vinte anos da publicação do seu livro sobre o amigo, Paulo Markun lançou mais uma obra relacionada ao caso: Meu Querido Vlado, - que conta a história de Herzog e do sonho de uma geração, sob um ponto de vista bastante pessoal, apresentando relatos emocionantes e surpreendentes desde a época do jornalismo na TV Cultura até o suicídio forjado pelo regime.

Hoje, passados 35 anos da morte de Vlado, o país respira aliviado por não viver mais em regimes ditatoriais, como aqueles dos anos de 1970. No entanto a população deve estar sempre alerta, cobrando de seus governantes o compromisso com a democracia, exigindo seus direitos e o respeito para com a liberdade de expressão.

E que nunca mais a população brasileira passe por momentos nebulosos como aqueles, tão bem retratados na música O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, especialmente na estrofe:

"Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil... "

Para saber mais sobre Vladimir Herzog, acesse http://vladimirherzog.org/


2 comentários:

  1. obrigada amiga pelo maravilhoso texto!

    é uma vergonha lembrar que o Brasil viveu esse período...

    beijos, saudades!!

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  2. Que bela homenagem!E que belo texto! Cecilia, acho que uma vez comentou aqui no blog que um dos seus livros inesquecíveis era o do Italo Calvino "Se um viajante numa noite de inverno". Queria muito ler sua opinião sobre ele, porque foi um livro que acabei abandonando pois achava que não estava em um bom momento. Queria saber sua opinião sobre o livro para ver se me animo. Gosto muito dos seus textos!

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