quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Numa ilha deserta cercada de livros

Em A Ùltima Tempestade, o diretor Peter Greenaway tranpôs para a tela do cinema a saga de Próspero, duque de Milão exilado em uma ilha distante com sua filha e seus livros, pelo seu próprio irmão, que lhe toma o ducado para aliar-se ao reino de Nápoles. A história é uma adaptação de A Tempestade, peça escrita por William Shakespeare, que fala sobre vingança, amor, conspirações, livros, natureza humana.

Lembrei-me muito desse enredo quando estava lendo Livros – Ilha Deserta, publicação da PubliFolha, na qual sete autores – Bernardo Ajzenberg, Carlos Heitor Cony, Contardo Calligaris, Manuel da Costa Pinto, Maria Rita Kehl, Moacyr Scliar e Nina Horta – enumeram 10 livros que levariam para uma ilha deserta. Há ainda um epílogo, sobre Robinson Crusoé, o maior de todos os náufragos, escrito pelo artista plástico Nuno Ramos.

A lembrança do livro de Shakespeare foi pura intuição, mas não a encontrei em nenhuma lista. O que é interessante notar em Livros – Ilha Deserta é conhecer a escolha de cada autor. Alguns foram guiados pela emoção da infância, outros pela companhia que os livros podem proporcionar – e acalentar – num momento de solidão, e ainda aqueles pautados pelas grandes obras da literatura universal.

Das listas de cada um, gostei particularmente da escritora Maria Rita Kehl, porque ela ter se baseado principalmente na sua infância, época em que a existência das ilhas desertas despertam a imaginação das crianças para aventuras incontáveis, longe dos adultos, com um enorme espaço à disposição. Foi nessa época, também, que ela queria ser o personagem dos seus livros prediletos. Mas aí, uma curiosidade interessante: segundo Maria Rita, os melhores personagens, os que viviam as histórias mais interessantes, as aventuras mais perigosas, eram sempre meninos. Dessa forma, entre os sete e os 13 anos, ela afirma ter sido um menino, como Tarzan, Mowgli, Robin Hood, Pedrinho, Tom Sawyer, Peter Pan, Ivanhoé e por aí vai.

“Quem me salvou para a vida de menina foi Emília, a heroína atrevida e esperta das histórias de Monteiro Lobato. Emília era desnaturada, tinha coração de pano, língua solta e nenhum medo. Dava gosto imaginar que eu era Emília. Mais tarde, quando tentava me conformar com meu destino de mulher, encontrei Helena Morley, a autora adolescente de Minha vida de Menina, e Jô March, a personagem com vocação literária de Little Women.
Se não me foi dado viver a vida fascinante dos meninos, que eu pudesse algum dia virar escritora e inventar outras vidas, outras histórias, outras aventuras que me consolassem da vidinha urbana e comportada destinada a uma reles moça de família de classe média paulistana.”

Maria Rita não poderia ter sido mais feliz nas suas escolhas. Assim, fiz minha listinha também. Foi difícil, porque tive de deixar livros queridos de fora, mas acho que no final consegui fazer uma boa seleção. Procurei me pautar na afeição e na emoção que cada livro deixou em mim, só que nas diferentes fases da minha vida, desde a adolescência até a vida adulta atual. São leituras que me são caras e que tenho certeza me fariam boa companhia numa ilha deserta.

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
2. Vidas Secas – Graciliano Ramos
3. Fogo Morto – José Lins do Rego
4. Juca Mulato – Menotti Del Picchia
5. O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
6. Cem Anos de Solidão – Gabriel Garcia Marques
7. Palestina – Joe Sacco
8. Os Irmãos Karamazov - Dostoiévski
9. A Revolução dos Bichos – George Orwell
10. Harry Potter e a Ordem da Fênix – J. K. Rowling

2 comentários:

  1. Oi, Cecilia
    Li esse livro no final do ano passado e tb gostei muito da lista da Maria Rita Kehl; suas escolhas sao otimas. Nunca tentei fazer uma lista dessa, acho que seria tao dificil...a sua ficou legal! Bjs

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  2. Acho que não consigo, ainda, fazer a minha listinha... Mas "roubaria", com certeza, alguns dos livros selecionados por vc... rs
    Gosto tanto do seu jeito de escrever, Ciça. Fico um tempo longe e, quando volto, é sempre bom matar a saudade.
    Um grande beijo!

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