Quando eu era criança não havia essa variedade farta de livros infantis que hoje se encontram nas prateleiras das livrarias do país. Se queríamos ler, mais comum era frequentar uma biblioteca ou, ainda, ouvir as histórias narradas – e adaptadas geração após geração – por nossas mães, tias e madrinhas dos contos de fadas dos Irmãos Grimm, das fábulas de Esopo ou do folclore brasileiro.
Por isso me encanto tanto com a literatura infantil hoje em dia, e me surpreendo sempre com a quantidade e a acessibilidade a esse meio de comunicação. Mas isso começou um pouco antes, quando meus sobrinhos ainda eram crianças e, juntos, nos aventurávamos no universo literário infantil. Eles cresceram, já são adultos, mas a sementinha se não germinou tanto neles, pelo menos em mim cresceu ainda mais.
Assim, ao comemorar o Dia Nacional do Livro Infantil, na data do aniversário de Monteiro Lobato, um dos mais importantes autores brasileiros do século XX, que dedicou boa parte da sua vida à literatura voltada para crianças, gostaria de falar de um livro bacana que li há algum tempo e que me marcou muito, embora não seja do grande escritor.
Trata-se de A mulher que matou os peixes (1968), da escritora nascida na Ucrânia, mas totalmente brasileira, Clarice Lispector. Nesse livro, com muita delicadeza e sensibilidade, a autora se dirige aos leitores e confessa ter matado, sem querer, os peixinhos de seu filho, e pede perdão por isso.:
Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra. Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu coração é doce: perto de mim nunca deixo criança nem bicho sofrer.
Mas antes de contar o fato como realmente aconteceu, Clarice fala sobre todos os bichos de estimação que já viveram em sua casa, convidados ou não, como a macaca Lizete, os cachorros Jack e Dilermando, além de outros animais de amigos e conhecidos. A tentativa é de mostrar o quanto ama os animais e que o fato de ter deixado os peixinhos morrerem não foi um ato proposital.
Com esse livro, publicado pela Editora Rocco, Clarice tenta demonstrar às crianças que a mãe também erra, como todos os seres humanos e, por isso, também merece o perdão.
Clarice Lispector criou outras histórias destinadas ao público infantil, como O mistério do coelho pensante, A vida íntima de Laura, Quase de verdade e Como nasceram as estrelas. Como se vê, em quase todas as histórias, a temática dos animais e sua relação com o homem predomina, demonstrando todo o seu amor – e respeito – aos seres da natureza.
No Dia Nacional do Livro Infantil presenteie uma criança ou leia um livro para ela.
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