Na edição de abril (nº 277) da revista Imprensa há uma matéria sobre os livros que contribuíram para a carreira de 40 jornalistas brasileiros. Eles listaram, cada qual, dez livros, totalizando 400 publicações, destas, a revista elaborou um ranking das dez obras mais citadas, as indispensáveis, cujo primeiro lugar é ocupado por A sangue frio, do escritor e jornalista Truman Capote.
Publicado em 1966, o livro relata o brutal assassinato de uma família na cidade de Holcomb, no interior do Kansas (EUA). Reconstitui, de forma jornalística, misturando recursos literários, o surgimento da ideia do assassinato, o planejamento, a ação, a captura dos assassinos, a prisão, o julgamento até a execução. É um marco no Jornalismo Literário e uma das minhas leituras preferidas.
Em segundo está a biografia de Chatô, o Rei do Brasil (1994), do escritor e jornalista Fernando Morais, que, infelizmente ainda não li; e em terceiro Fama e Anonimato (1970), do também escritor e jornalista Gay Talese, que li uma boa parte. Os demais livros indispensáveis podem ser conferidos aqui. Além do ranking, confira também as respostas dos jornalistas aqui
Como jornalista, resolvi também elaborar a minha listinha dos dez livros que mais contribuíram para a minha carreira. São livros que tiveram uma forte influência na minha formação jornalística e com os quais tenho um
a relação bem próxima. Veja:
Trata-se de um livro de memórias de Samuel Wainer Filho, jornalista que teve forte influência na história republicana. A obra traz documentos e imagens, além de informações sobre o esquema de arrecadação de dinheiro destinado a financiar o contragolpe por partidários do presidente João Goulart. Wainer foi testemunha e protagonista da história política de 1960 a 1980.
A Prática da Reportagem, de Ricardo Kotscho
Este pequeno livro, de tamanho, mas rico em conteúdo, conta as histórias do repórter Ricardo Kotscho no exercício da profissão. Constitui-se em um verdadeiro manual prático do repórter.
A Regra do Jogo, de Claudio Abramo
Publicado em 1988, após a morte do jornalista, A regra do jogo foi elaborado a partir de depoimentos deixados por Abramo, além de entrevistas, artigos, reportagens e comentários publicados pelo autor, que foi responsável pela modernização dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, bem como formador de gerações de profissionais. Indispensável para todo jornalista.
No livro são publicados os melhores textos produzidos por Rubem Braga entre 1935 e 1977. O próprio autor escolheu as crônicas tendo por base a seleção original de Fernando Sabino. Uma verdadeira aula da crônica, ministrada por aquele que foi o maior cronista do país.
México em Transe, de Igor Fuser
Li este livro quando fazia a pós-graduação em Jornalismo Internacional e fiquei fascinada pela história e pelo trabalho jornalístico do autor. A publicação traz os acontecimentos ocorridos em 1º de janeiro de 1994, quando em Chiapas, guerrilheiros revivem a memória do líder revolucionário Zapata. Naquele mesmo dia entrava em vigor o Nafta, tratado comercial neoliberal entre México, EUA e Canadá. Muito bom!
Palestina, de Joe Sacco
Que mais dizer de Palestina? Já escrevi posts falando sobre a obra e o autor. Trata-se da reportagem em quadrinhos feita por Sacco, que é jornalsita e cartunista, sobre o conflito entre israelenses e palestinos entre 1991 e 1992. O livro provocou um forte impacto em mim e nos meus interesses profissionais.
O Jornalista e o Assassino, de Janet Malcolm
O livro coloca em pauta a ética do jornalismo e a liberdade de imprensa ao narrar a história do médico Jeffrey MacDonald, que foi condenado pelo assassinato da esposa e das filhas. Ele moveu um processo contra um jornalista que, aproximando-se dele para escrever um livro sobre sua versão dos fatos, acabou por comprometê-lo ainda mais tendo por base entrevistas feitas durante o julgamento e a prisão.
Especialista em escrever perfis de anônimos, Mitchell foi um dos maiores jornalistas americanos do século XX. O livro traz a reportagem publicada na revista The New Yorker, onde Mitchell trabalhava, que conta a história de um mendigo que perambulava pelo Greenwich Village, bairro boêmio de Nova York , e que estaria escrevendo o livro “História oral do nosso tempo”. A revelação da verdade e a crise de consciência do jornalista são o mote do livro.
O Olho da Rua - Uma repórter em busca da literatura da vida real, de Eliane Brum
O livro contém dez reportagens que Eliane fez nos últimos anos para a revista Época, tendo, ao final de cada uma, uma reflexão bastante sincera da autora, uma espécie de making of, de como foi o processo de reportagem, as dificuldades que enfrentou, as escolhas feitas, os erros e os acertos cometidos. Contadas assim, as histórias, de tão reais, às vezes parecem inventadas. E, além de tudo, são magnificamente ilustradas por imagens feitas por fotógrafos-repórteres.
O livro contém dez reportagens que Eliane fez nos últimos anos para a revista Época, tendo, ao final de cada uma, uma reflexão bastante sincera da autora, uma espécie de making of, de como foi o processo de reportagem, as dificuldades que enfrentou, as escolhas feitas, os erros e os acertos cometidos. Contadas assim, as histórias, de tão reais, às vezes parecem inventadas. E, além de tudo, são magnificamente ilustradas por imagens feitas por fotógrafos-repórteres.
O Filho Eterno, de Cristovão Tezza
Emocionante, sem ser piegas; apurado sem ser pedante; verdadeiro sem ser cruel. Assim é o livro de Tezza. Com uma escrita primorosa, recheada de referências e lembranças, que esmiúçam detalhes da sua alma e de seus pensamentos, o autor expõe, com coragem, por meio da ficção, a história – sua história – de um pai que tem um filho com a Síndrome de Down. Com coragem porque não omite seus sentimentos com relação a esse, que vão desde o choque ao receber a notícia, passando pela rejeição e desejo – com alívio – que seu filho não viva muito tempo, até a adaptação e a consciência da importância do filho na sua vida. É um dos melhores livros que li, sem falar na escrita em si, que me deixou estupefata.
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