Há 67 anos,
em 6 de agosto, a bomba atômica causava a morte de mais de 100 mil pessoas na
cidade de Hiroshima, no Japão, deixando ainda milhares de feridos. A tragédia,
desencadeada pelos Estados Unidos, marcava o final da Segunda Guerra Mundial, e
viria a se repetir, dias depois, em outra cidade japonesa: Nagasaki.
Hiroshima
foi a primeira cidade no mundo a ser atingida por uma bomba atômica, uma
distinção que não é orgulho nenhum ostentar. Tudo começou com um clarão
silencioso, uma nuvem de poeira e fragmentos de fissão que se ergueram no céu e
voltaram ao chão como gotas imensas, do tamanho de bolas de gudes, espalhando a
mistura nociva. Algo jamais visto, algo que jamais deveria ser visto.
O terror daquele dia foi bem retratado na reportagem do jornalista norte-americano John Hersey, a partir do depoimento de seis sobreviventes, e publicada na revisa The New Yorker. Quarenta anos depois, Hersey voltou à cidade para reencontrar os sobreviventes para saber dos efeitos que a bomba ainda produzia nas pessoas. Aliando o jornalismo aos recursos da literatura, o jornalista fez um belo trabalho, que foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
No entanto,
uma das melhores reproduções da tragédia pode ser vista no mangá Gen Pés Descalços (Hadashi no Gen), do cartunista
japonês Keiji Nakazawa. A obra foi lançada em 1972, na revista Shonem Jump, no Japão, e ficou décadas
sem ser conhecida, chegando ao Ocidente dez anos depois. No Brasil foi
publicada no início dos anos 2000, pela Conrad Editora, em edição compacta em
quatro volumes – A vida após a bomba; O dia seguinte; O início; e O recomeço –, mas no estilo Ocidental,
ou seja, da esquerda para a direita.
A obra esgotou-se rapidamente e, em 2011, a Conrad decidiu
republicá-la, com o texto integral, em dez volumes, com leitura de trás para
frente. Porém, a edição que li e que ilustra este post foi a primeira, em quatro volumes, o suficiente para me
emocionar, chocar e ao mesmo tempo encantar.
A história é autobiográfica, já que Nakazawa morava com a
família em Hiroshima e tinha sete anos quando a bomba atômica foi lançada na
cidade. O mangá mostra momentos da vida familiar antes da queda da bomba, as
dificuldades com a falta de comida em meio a guerra que assolava o país. Gen e
seus familiares são contrários à campanha governamental que insistia em
demonizar os ocidentais e são hostilizados por isso.
Quando a bomba atinge a cidade a catástrofe torna-se geral e
os traços de Nakazawa, em estilo infantil, chegam a perturbar nas cenas mais
dramáticas, como naquelas em que as pessoas aparecem em chamas, com a pele
caindo, suplicando por água. A perda da família, o difícil recomeço de quem
sobreviveu, as feridas no corpo e na alma vão permear a história, do início ao
fim.
O mangá apresenta um tom didático e foi criado para alertar e
prevenir que atrocidades como aquela não se repita. Um trabalho humanista, cuja
idealização é marca da obra, sem perder o seu valor histórico. Por isso,
imperdível!
Para quem se interessar, há uma animação baseada no mangá,
intitulada Gen, que pode ser
encontrada em DVD. Com roteiro de Keiji Nakazawa, a direção é de Mori Masaki.
Vale conferir.
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