Há quem diga que a era dos blogs já passou, que eles estão superados e coisa e tal. Não sei, não. Para mim eles continuam com força total, mesmo porque, quando comecei, há exatos três anos, o boom desses “sites” já tinha passado, mas para mim não fazia a mínima diferença se era moda ou não. Continuo com o meu, embora nem sempre atualize com a frequência que gostaria.
Aqui
compartilho minhas leituras, as histórias delas e a relação dos livros em minha
vida. Mas há outros blogs que, ainda sejam criados para extravazar anseios e
sentimentos de liberdade, têm uma função informativa, ou melhor, social e de
denúncia. É o caso de Generación Y ( http://www.desdecuba.com/generaciony/ ),
da filóloga cubana Yoani Sánchez, que desde abril de 2007 mantém um blog no
qual conta a vida real em Cuba, sendo um dos mais visitados do mundo, com
vários milhões de acessos mensais.
O blog
recebeu o nome de Generación Y inspirado
em pessoas como Yoani, que tem o nome iniciado pela letra “Y”. São indivíduos
nascidos em Cuba, nos anos de 1970 e 1980, cujos pais descobriram que a escolha
dos nomes dos filhos não era controlada e, portanto, poderiam “transgredir”
utilizando letras poucos comuns.
Apesar dos
inúmeros acessos – todos fora de Cuba –, Yoani não pode ser lida em seu país, local
onde vive com seu marido, o jornalista Reinaldo Escobar, e o filho adolescente
Teo. Perseguida e vigiada, ela não pode nem sair de Cuba, por falar e mostrar a
realidade dos fatos, desconstruindo mitos da propaganda oficial e denunciando
as atrocidades da ditadura cubana.
“Generación
Y é a coisa mais arriscada que fiz em
minhas três décadas de vida e, depois de começar a escrevê-lo, sinto com
frequência os joelhos tremerem. Para evitar endeusamentos e futuras
crucificações, deixo claro em uma das páginas que o meu blog é um exercício
pessoal de covardia: dizer na rede tudo aquilo que não me atrevo a expressar na
vida real”, conta Yoani nas primeiras páginas de De Cuba com carinho, livro publicado no Brasil pela Editora
Contexto, em 2011, e que reúne alguns dos principais posts do blog.
O que Yoani
escreve, não são textos políticos, mas notas de alguém que ama seu país e sofre
com o declínio da economia cubana, que se mostra decepcionada com um regime que
envelheceu e que continua no poder, como segue na passagem:
Enquanto são preparados extensos
dossiês sobre os cinquenta anos da Revolução Cubana, poucos se perguntam se o
que se celebra é o aniversário de um ser vivo ou simplesmente o de algo que
deixou de existir. As revoluções não duram meio século, advirto aos que me
perguntam. Elas terminam por devorar a si mesmas e por se excretar em
autoritarismo, controle e imobilidade. Expiram sempre que tentam se tornar
eternas. Falecem por querer se manter sem mudanças.
Seus posts falam do cotidiano do povo cubano,
da falta de liberdade, da escassez de gêneros de primeira necessidade, da
corrida ao “mercado negro” para conseguir colocar comida no prato da família, e
dos trabalhos puxados nas escolas rurais, entre outros assuntos.
Ao final do
livro há um texto de Demétrio Magnoli, sociólogo e geógrafo brasileiro, que contextualiza
Yoani e seus textos, além da história da revolução cubana, para o leitor do
Brasil. Já a tradução, feita pelo linguista Rodolfo Ilari, traz notas de
esclarecimento ao final de cada texto.
Vale lembrar
que o blog Generación Y só pode ser
acessado fora da ilha e, para escrevê-lo, Yoani tem de realizar malabarismos,
despistar, inventar-se. Mas como a internet tem uma vida intensa e mais livre
que a real, sua investida teve ecos em diversos países, ainda que na “ilha”
seja bloqueada.
Yoani ganhou
prestígio exterior, sendo considerada pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e de ter
recebido prêmios como o Ortega y Gasset
de jornalismo, concedido pelo jornal espanhol El País, além do The BOBs de melhor blog de 2008.
Acesse o blog,
leia o livro. O olhar sobre Cuba não será mais o mesmo.
Olá, Cecília!
ResponderExcluirTeu texto está excelente sobre esse que é um dos livros mais comoventes e importantes que já li. Yoani tem uma escrita tocante, tanto pela sinceridade com que se expressa quanto pelo que tem para dizer sobre a vida em Cuba.
"De Cuba, com carinho" é livro para a estante das leituras fundamentais.
Ótima postagem de sugestão de leitura!
Abraços!