Recentemente,
o escritor brasileiro Paulo Coelho levantou polêmica sobre Ulysses, de James Joyce. Segundo ele, o clássico é “só estilo” e
que, se dissecado, “dá um tuite”. Vamos dar um desconto, acho que ele não
compreendeu muito bem a extensão da obra do autor irlandês e seu alcance na
literatura moderna, pois o estilo é o que faz toda a diferença na qualidade de
um texto.
Seja como
for, polêmicas à parte, James Joyce continua a surpreender, pois, da mesma
forma que ele pode escrever com complexidade e vastidão, também sabe ser
sucinto e direto. Exemplo disso é o recém-lançado O gato e o diabo, livro infantil publicado em edição caprichada
pela Cosac Naify, dentro da coleção Dedinho
de Prosa.
A história é
baseada em uma carta que James Joyce enviou, em 1936, ao seu neto Stephen, na
época com quatro anos. O texto só veio a público 20 anos depois e foi traduzido
para mais de dez idiomas. No Brasil, a história chega com tradução inédita e
autoral da escritora Lygia Bojunga, que privilegiou o original do escritor, e aquarelas
caprichadas do cartunista mineiro Lelis.
O enredo é
simples e foi inspirado em um conto popular francês. Narra a história de um
diabo interessado em trazer mais pessoas para seu lado. Assim, ele constrói uma
ponte na cidade francesa de Beaugency, antiga aspiração dos cidadãos, fazendo
um trato com o prefeito em troca do primeiro que atravessá-la quando estiver
pronta. Ao querer ser esperto, o diabo acaba caindo na sua própria armadilha,
com um final que surpreende e diverte.
É uma
história simples, bem contada, cujas ilustrações de Lelis enaltecem os
personagens. O próprio diabo é uma caricatura de James Joyce, e seu sotaque
francês macarrônico, com jeito dublinense, personifica ainda mais o escritor
irlandês.
Uma joia que
encanta os olhos e enternece o coração, como poucos – e bons – escritores sabem
lapidar. Este é James Joyce.
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