Como em um labirinto, o livro nos propõe caminhos, nem sempre
aprazíveis, nem sempre fáceis, mas com certeza fascinantes. Não vou dizer que
entendi completamente o livro, mas a experiência foi algo surpreendente que me
tornou cativa, entregue e totalmente apaixonada pela escrita de Borges. A tal
ponto de não querer ler mais nada na vida a não ser livros do autor argentino.
Claro, não fiz isso, mas que deu vontade deu.
O Aleph foi
lançado em 1949 e compõem-se de 17 contos, começando pelo “O imortal” com suas
reflexões a cerca da imortalidade e encerrando com “O Aleph” em uma referência
ao espaço, ao todo, ao universo. A narrativa é permeada por uma linguagem apurada,
culta, sofisticada, que produz o mesmo efeito que a boa música traz para os
nossos ouvidos – no caso aqui para todos os sentidos. Exemplo disso é esta
passagem de “O imortal”
... Deixei
o caminho ao arbítrio de meu cavalo. No alvorecer, o horizonte ficou enriçado de
pirâmides e torres. Sonhei, insuportavelmente, com um labirinto exíguo e
nítido: no centro havia um cântaro; minha mãos quase o tocavam, meus olhos o
viam, mas tão intricadas e perplexas eram as curvas, que eu sabia que ia morrer
antes de alcançá-lo.
Os contos giram em torno do tempo, do infinito, da imortalidade e da
perplexidade metafísica, às vezes complexa, às vezes simples, demonstrando que,
para Borges, a literatura é uma prática constante, que não se esgota. E é ela a
personagem principal de seus contos, por meio de símbolos e criações
fantásticas, traduzidas pelo realismo mágico latino-americano, do qual é
precursor.
Dentre os contos destaco “A casa de Astérion”, que me causou prazer
inenarrável pela engenhosidade da narrativa, estranha e instigante a princípio,
mas terrivelmente encantadora ao seu final. É uma referência à mitologia grega,
cujo narrador, Astérion, é o protagonista da história, que vai se revelando
pouco a pouco, por meio de sua morada, até ficar de todo descoberto. Falar mais
é tirar o prazer da leitura do conto, que já prende a atenção, logo no seu
início:
Sei que me
acusam de soberba, e talvez de misantropia, e talvez de loucura. Tais acusações
(que castigarei a seu devido tempo) são irrisórias. É verdade que não saio de
minha casa, mas também é verdade que suas portas (cujo número é infinito*)
estão abertas dia e noite aos homens e também aos animais. Que entre quem
quiser. Não encontrará aqui pompas feminis nem o bizarro aparato dos palácios,
mas sim a quietude e a solidão. Assim, encontrará uma casa como não há outra na
face da Terra...
Compreender o estilo borgeano pode não ser fácil, mas é uma aventura indescritível,
à qual se quer lançar-se sofregamente. Talvez não se chegue ao entendimento
pleno, mas a percepção da vida e do universo, com certeza, não será mais a
mesma.
Ciça, querida, ainda não conhecia esse blog e muito menos que era seu! Fiqueinsurpresa, feliz e vou vir aqui te prestigiar. Um grande beijo.
ResponderExcluirLucia Pinheiro
Lucia, que prazer receber sua visita. Apareça, sim, mais vezes, vou gostar. Beijos.
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