Os festivais literários têm uma tradição forte na Europa, onde
são realizados praticamente um a cada semana. No Brasil, de uns anos para cá,
essa prática começou a ganhar corpo, transformando-se hoje em uma febre. Nada,
é claro, que se compare aos países europeus, mas já apresentando números
expressivos. Para se ter uma ideia, em 2012 foram 200 festivais e feiras
literárias, segundo o calendário organizado pela Fundação Biblioteca Nacional
(FBN).
Apesar da realização da Bienal
Internacional do Livro, São Paulo ainda está – ou estava – a dever nesse
quesito, ou seja, na promoção de festivais que, mais do que a venda de livros,
traz mesas, debates e oficinas, nos moldes da Festa Literária Internacional de Paraty, uma das mais tradicionais e
charmosas do país e que acontece anualmente.
Eu disse “ou estava” porque, numa iniciativa da Associação
dos Advogados de São Paulo (AASP) vem aí o Paulicéia
Literária 2013, o festival que a capital paulista sediará de 19 a 22 de
setembro. A proposta é fortalecer os laços que interligam a literatura ao mundo
jurídico; mas não somente. “O evento pretende contribuir para despertar o
interesse dos advogados e do público em geral pela literatura como um evento
que se insira na agenda cultural da cidade”, destaca Christina Baum, curadora
do Festival.
A iniciativa da AASP faz parte das comemorações dos 70 anos
da entidade, que congrega mais de 90 mil advogados, constituindo-se, de acordo com Sérgio Rosenthal, presidente da associação, na segunda
maior do mundo por adesão espontânea. Localizada no centro de São
Paulo, a AASP, além da promoção de cursos e eventos culturais, possui uma das
mais completas bibliotecas de obras jurídicas.
Festival
A programação do Paulicéia Literária 2013, cujo nome é
bastante sugestivo por se inserir no cenário paulistano, trará mesas
literárias, oficinas e grupos de leitura. Será realizada no auditório e salas
da AASP, cuja sede fica à Rua Álvares Penteado, nº 151, bem no coração de São Paulo,
o que, sem dúvida, contribuirá para revitalizar o centro velho da capital
paulista.
A cada edição do Paulicéia
Literária haverá um “Autor em foco”, como acontece na Flip, e cuja obra
será tema de alguns eventos ao longo do festival. Para esta primeira edição, a
homenageada será a escritora Patrícia Melo, que abrirá o festival no dia 19 de
setembro.
Autora principalmente de obras policiais, Patrícia é
conhecida por seus livros dedicados a analisar a mente de criminosos. Em 2001
ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura
por seu trabalho em Inferno.
Além de Patrícia Melo, mais 12 autores confirmaram a presença
na Paulicéia Literária 2013: Miguel
Souza Tavares e Valter Hugo Mãe (Portugal), Philippe Claudel (França), Richard
Skinner (Reino Unido), Scott Turow e William Landay (EUA), Juan Pablo Villalobos
(México), que na ocasião lançará seu novo livro Se vivêssemos em um lugar normal, e os brasileiros Alberto Mussa,
Maria José Silveira, Michel Laub, Tony Bellotto e Laurentino Gomes, que lançará
no festival 1889, o último livro da
trilogia sobre a construção do Brasil no século 19.
O mundo jurídico dará o tom do evento, mas ele não se
restringirá apenas a esse universo. Haverá mesas literárias como a que
homenageia a escritora Lygia Fagundes Telles, que se formou na Faculdade de
Direito do Largo São Francisco, sendo uma das mulheres pioneiras na área
jurídica e que neste mês completa 90 anos de vida. Além desta, a programação
terá a Paulicéia estilhaçada, mesa
sobre livros de ficção que têm São Paulo como cenário, entre outras.
Mais voltadas aos advogados, haverá três mesas temáticas: Advogado do diabo (com temas polêmicos
do mundo jurídico), Shakespeare e a lei
(que será conduzida por advogado, escritor e ator) e Advogado, profissão: escritor (que tratará de romances policiais
escritos por advogados).
A programação contempla ainda duas oficinas literárias: uma
ministrada por Patrícia Melo e direcionada para advogados e outra aberta ao
público em geral, conduzida pelo escritor britânico Richard Skinner, diretor e
professor da Faber Academy. Os temas ainda estão sendo preparados.
Como parte do Paulicéia
Literária, a partir de maio serão organizados grupos de leitura, com
encontros semanais coordenados por um mediador para debater o conteúdo de algum
livro de um dos autores convidados. Esses eventos serão gratuitos e anunciados
previamente pelo site do festival (www.pauliceialiteraria.org.br).
Os encontros acontecerão na sede da AASP e nas lojas da Livraria Cultura,
parceira do evento e livraria oficial do festival.
A programação completa será divulgada na primeira semana de agosto,
antes do início da venda de ingressos para as mesas e oficinas, que será aberta
dia 19 de agosto. É aguardar.
Não concordo com o local desta festival, achei com viés jurídico e não acho que a literatura deva ir por este caminho. Que tal um lugar como o Ibirapuera, com tendas de livros, bibliotecas itinerantes, salas de discussões para os alunos das escolas publicas e privadas (como acontece em outros festivais). Fazer do auditoria as mesas de discussões e na parede do auditório a projeção para os que ficassem de fora e pudessem assistir do lado de fora...ou outras opções, mas sem vínculos de classe como AASP
ResponderExcluirPúblico-alvo: associados da AASP, advogados, estudantes de Direito e o público em geral.
ResponderExcluirVeja a descrição do Público, deveria ser: "publico geral" e somente...
Aff!!!
Cara Cecilia, não é uma critica ao blog, é uma critica na condução deste evento, que para mim, como leitora e frequentadora de festival de literatura, está seguindo numa direção fora da estrada da literatura, está me parecendo mais um festival de apologia ao direito. Novamente, desta vez, sem critica ao Direito em si, pois fiz direito (sou bacharel), mas acho que literatura tem que contemplar toda ela sem viés.
Abraços,
Renata
A promoção é da AASP, é natural que tenha um viés jurídico, mas há, também, espaço para a literatura em geral. Se outras associações se empenhassem e se unissem, quem sabe o leque não abriria ainda mais.
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