quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

De Llosa a Lorca

Ao devolver um livro na biblioteca, uma conversa inesperada com a bibliotecária cutucou minha memória, reacendeu lembranças e aguçou ainda mais minha curiosidade a cerca do poeta espanhol Federico García Lorca.

O livro a ser devolvido era Tia Júlia e o Escrevinhador, de Mario Vargas Llosa, que eu havia lido há pouco e agora tinha restituir à biblioteca. Ao entregá-lo, a bibliotecária indagou:
 
Você gostou do livro?
– Sim – respondi. É muito divertido.
– Ah, o que me lembro de Vargas Llosa é um filme que assisti dele...
– Baseado em um romance que ele escreveu?
– Não. Era um filme em que ele aparecia como homossexual...
(Estranhei, mas deixei que ela continuasse).
... e teve um caso com Salvador Dalí, que no filme era interpretado por aquele jovem ator que fez a série “Crepúsculo”. Llosa depois foi fuzilado...
(Tive de intervir).
Vargas Llosa não morreu, talvez você tenha confundido. Não será García Lorca? (minha memória fez um clique). A sonoridade do nome é a mesma.
Ela pareceu confusa:
– Garcia Lorca? Poeta espanhol... acho que sim.
E ainda lembrou-se de que a história se passava na época da ditadura espanhola.
– Como é mesmo o nome daquele ditador da Espanha?
– Hummm, Franco? – respondi.
– Sim, esse mesmo. O filme mostra a relação de Lorca com Dali e traz uma das cenas mais bonitas de amor entre dois homens que vi. Com poesia... com um homem e uma mulher não seria tão belo assim.
 
(Apenas um parênteses)
Essa conversa me fez lembrar de um filme que assisti em que cenas de homossexualismo também foram feitas com delicadeza: O expresso da meia noite, filme da década de 1970, realizado por Alan Parker, em que um estudante norte-americano é preso no aeroporto da Turquia por porte de drogas. Ele é espancado e vai para a prisão, onde conhece um rapaz com o qual se relaciona. A cena dos dois juntos chocou o público na época, mas ao mesmo tempo encantou pela suavidade e sugestão do ato.
 
(De volta a Lorca...)
Eu estava na hora do meu almoço e, portanto, não podia demorar muito. Mas toda a vez que pensava em ir embora a bibliotecária retomava o assunto, buscando agora auxílio nos sites de busca para me mostrar o filme citado. Trata-se de Poucas cinzas, dirigido por Paul Morrison, com Javier Beltrán (Lorca) e Robert Pattinson (Dalí) no elenco. Rodado na Espanha em 2008, o filme gira em torno da relação entre García Lorca e Salvador Dalí, tendo como pano de fundo as agitações da Madrid da década de 1920 até a explosão da Guerra Civil Espanhola na década de 1930.
 
A bibliotecária até ficou interessada nesse filme e perguntou se eu gostava também de cinema. Respondi que sim ficamos falando mais um pouco dos dois filmes, e de um outro, com Andy García, que interpretou Lorca no cinema: O desaparecimento de García Lorca, baseado no livro de Ian Gibson, estudioso da vida do poeta.
 
O fato é que o tempo passou e eu já estava mais do que atrasada, portanto não tive outro remédio se não interromper a conversar e voltar correndo para o trabalho (ainda bem que é perto). Mas não sem pensar em Lorca, na sua trágica trajetória, na sua importância literária e nos seus escritos que ainda não li. Uma falha que preciso reparar, como tantas... pena que a vida seja curta para lermos todos os livros e autores que desejamos.

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