Ele fazia Engenharia na Unicamp no final dos anos de 1970, gostava de “pegar onda” e tinha o vigor da juventude nos olhos e por todo o corpo. Ao completar 20 anos, sua vida deu uma guinada profunda após um acidente que o deixou tetraplégico. O Brasil perdia ali mais um engenheiro, quem sabe..., mas ganhava um novo expoente na literatura nacional e que viria a se confirmar anos depois: Marcelo Rubens Paiva.
Hoje, aos 50 anos, o autor de Feliz Ano Velho contabiliza um respeitável currículo de obras literárias, como Blecaute, Ua:brari, As Fêmeas, Bala na Agulha, Não és Tu Brasil, Malu de Bicicleta e O Homem que Conhecia as Mulheres. Marcelo é ainda jornalista e escreveu diversas peças para o teatro, como No Retrovisor, com Marcelo Serrado e Otávio Muller.
Se fosse perguntar a ele se na juventude imaginava que sua trajetória mudaria de tal maneira, acredito que ele responderia NÃO. Mas a vida é feita de percalços, nem sempre previsíveis, é certo, diria até que na maioria das vezes. E o acaso acontece, conduzindo-nos por um novo caminho, por uma direção que não esperávamos, mas talvez necessária.
Li Feliz Ano Velho no auge do seu lançamento e me encantei com a história daquele menino, cuja infância fora marcada pelo “desaparecimento" do pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva, pela ditadura militar. Marcelo narra o acidente que o paralisou, as consequências advindas dele, a recuperação, a adaptação e a nova vida com uma franqueza dilacerante. Se falta trato literário de iniciante nas letras, sobra emoção no texto. E foi essa emoção que cativou milhares e milhares de leitores, transformando o livro em um best seller dos anos de 1980.
A partir dali, Marcelo direcionou a sua vida, estudou Literatura, fez teatro, se aperfeiçoou. E o que parecia ser um “modismo”, uma onda passageira da década, materializou-se num sólido escritor.
A vida é feita de reviravoltas mesmo. E talvez elas aconteçam para que possamos seguir em frente, quando as coisas ameaçarem de cair no marasmo.
Ontem minha sobrinha Luciana, que também é minha afilhada, e por coincidência – ou não – é fã de Marcelo Rubens Paiva, desde que leu Feliz Ano Velho, seguido dos outros títulos do autor, tornou-se uma profissional diplomada na cerimônia de colação de grau.
Depois de flertar, quando adolescente, com a Psicologia Investigativa, de ter decido em seguida abraçar a Fisioterapia, ciência na qual quase chegou a se formar, finalmente Luciana encontrou seu rumo na Estética. Hoje, é uma técnica da área.
Como todas as formaturas do gênero, a dela não podia deixar de mesclar momentos de emoção com episódios de tédio e cansaço pelo prolongamento da cerimônia. Então aprovetei para relembrar dela pequena, das travessuras que fazia, dos sonhos que acalentava, das dúvidas e dos medos que tinha, dos seus acertos e erros, dos shows de rock e até os de pagode (é ela teve essa fase) em que íamos juntas e das aventuras que promovíamos. Pude acompanhar tudo, bem de perto. Que bom!
O tempo passou voando. Luciana é uma mulher e uma profissional que inicia um novo capítulo no livro da sua vida. O prefácio já está escrito, agora cabe a ela começar a preencher as páginas em branco que se seguem, deixando definitivamente para trás o seu feliz ano velho.
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