segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre grupos, livros e cafés

Sempre tive vontade de participar de grupos de literatura... sabe, aqueles encontros semanais em que pessoas se reúnem para ler e discutir um livro, falar suas impressões, trocar ideias, aprender com o ponto de vista do outro, se aprofundar mais em uma determinada leitura.

Em 2007 cheguei a frequentar um desses grupos, o do Laboratório de Humanidades, da Unifesp, que semanalmente reúne alunos da graduação e pós-graduação da área de saúde, além de pessoas da comunidade, para falar de Literatura. Era muito legal, porque a proposta era falar não a história do livro que estávamos lendo, mas sim a história da leitura desse livro, o que sentimos, o que pensamos, o que vivemos enquanto líamos, o que representou para a gente. Acho que é mais ou menos isso o que tento fazer neste blog, embora ainda esteja um pouco longe disso. Seja como for, acabei saindo do grupo por causa do horário – às reuniões são às sextas-feiras, das 12h30 às 13h30 –, e ficou inviável por causa do meu trabalho.

Já no ano passado tentei outro grupo, um que trabalha com arteterapia, e se reúne para ler e falar sobre poesia. Frequentei pouco e saí, outra vez por problemas de horário. Tentei até voltar , mas acabei não conseguindo.

Agora, estou à deriva, mas o desejo de participar desses grupos foi instigado novamente quando da leitura, recente, de Lendo Lolita em Teerã, da professora e escritora iraniana Azar Nafisi. O livro trata da experiência de Azar quando reuniu, clandestinamente, um pequeno grupo de alunas em sua casa, em Teerã, para ler e discutir a obra-prima de Nabokov e outros clássicos ocidentais de Jane Austen, F. Scott Fitzgerald, Henri James, entre outros.

Comecei a ler o livro, emprestado de uma biblioteca, pouco antes de ir à Festa Literária de Paraty em julho deste ano, que contou com a presença da escritora, mas não consegui terminar a leitura a tempo e precisei devolver o livro. Mas na Flip comprei o livro, assisti à mesa de Azar Nafisi e corri para o autógrafo. Simpática, sorridente e atenciosa, a escritora, quando chegou a minha vez, ainda cantou um trecho da música Cecilia, de Simon and Garfunkel, quando viu meu nome, e me deixou muito feliz com a bela dedicatória.

Ao chegar de viagem, com o livro na bagagem, apressei-me a ler, agora com mais tranquilidade e resolvi retomar a leitura do início para não perder nenhum detalhe que ficou da primeira leitura apressada.

Além do prazer desfrutado pela intimidade desses encontros, recheados de boa literatura e discussões, tão bem narradas, a autora nos brinda com uma contextualização dos primeiros dias da revolução islâmica, liderada pelo aiatolá Khomeini, em 1979, quando ela começou a lecionar na Universidade de Teerã, passando pela ditadura que se seguiu até chegar a criação do clube de leitura e sua saída do país, em 1997. Hoje ela vive radicada nos Estados Unidos.

Foi uma leitura bastante prazerosa, sobretudo por se tratar de uma verdadeira declaração de amor aos livros, com referências à boa literatura inglesa. Mas não só. Tive também outro sentido aguçado enquanto lia: o do paladar. Em meio às discussões sobre livros, política, vida cotidiana dos iranianos, sobretudo das mulheres, Azar descreve cenas em que, acompanhada de amigos ou de suas “meninas”, degusta sorvetes e cafés, principalmente café turco e café glacê. Várias vezes, como neste trecho.

“Nosso apetite parecia insaciável. Laleh pediu creme de caramelo e eu, duas bolas de sorvete de baunilha e café, acompanhados de café turco e uma porção de nozes. Espalhei as nozes cuidadosamente pelo café embebido no sorvete...”

E aqui:

Neste momento, o garçom chegou com o pedido, um café glacê. Então, olhei para Manna e falei com o garçom. Um pouco mais tarde você poderia trazer para nós um café turco? Minha mãe tinha estabelecido o hábito de servir café turco para nossa turma e, desde então, passamos a ler os nossos destinos na borra do café..."

Não é preciso nem dizer que fiquei com vontade de tomar esses cafés, tanto que até fui pesquisar sobre eles na internet. O café glacê é uma bebida refrescante que combina uma série de elementos para produzir um café espumante e delicioso. Uma das formas é fazê-lo é misturar bolas de gelado de café, expresso, natas, chantilly e licor Baileys. Hummm delícia!

Já o café turco é feito com moagem mais fina possível de pó, colocando o mesmo diretamente na água fria, onde ocorre uma rápida infusão. Em geral, é feito já açucarado e pode levar especiarias – a mais comum é a semente do cardamomo.

Para não errar, aqui vai a receita. Depois é só saborear.

Ingredientes:

100 a 150 gramas de café moído
2 litros de água fervente
2 ½ xícaras (chá) de leite quente
Açúcar cristal ou açúcar mascavo
Cardomomo e canela

Modo de preparo:

Esquente um ou dois bules de cerâmica ou de louça, que tenham tampa, enchendo-os com água quente. Retire a água depois de aquecer por 10 minutos. Coloque o café nos bules e despeje a água fervente por cima. Mexa e tampe. Depois de um minuto, passe uma colher de metal pela superfície para ajudar a sedimentar o café. Recoloque as tampas e deixe em infusão durante mais quatro minutos, aproximadamente. Pode-se adicionar especiarias moídas muito finas, como cardamomo e canela, á mistura de água e café. Sirva imediatamente acompanhado de leite quente (sem ferver) e açúcar cristal ou mascavo, servidos à parte.

3 comentários:

  1. Olá Cecilia, foi um prazer recebê-la em meu blog e adorei descobrir o seu.
    Mesmo correndo, já vi que tem muito o que ver por aqui e de primeira fico com as duas indicações aí de baixo para futura leitura, volto depois para conferir o resto, vou me tornar seguidora e estarei sempre por aqui.
    Seja sempre muito bem vinda !
    Bjuss!!!

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  2. Cecília, que texto maravilhoso! Fiquei com vontade de ler o livro.
    Eu também cheguei a participar de um grupo assim, mas acabei saindo também. Atualmente eu participo de um, só que nos reunimos para ler os textos que produzimos durante a semana. É bem legal também. Espero que esse não acabe.

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  3. Oi, Cecilia
    Morro de vontade tb de participar de um desses grupos, mas nunca tive oportunidade. Comprei esse livro ha pouco tempo, mas ainda nao li. Sua resenha ficou muito boa e deu muita vontade de esperimentar esse cafe..rs..bjs

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