sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A tal da fidelidade

Toda vez que encontro Gil na plataforma do metrô Sé, quando retorno do trabalho para casa, ela está com um livro nas mãos, às vezes até dois. E a primeira coisa que pergunto, depois de cumprimentá-la é:

– Que livro você está lendo?

É inevitável. Mas ontem, ao encontrá-la, antes que eu pudesse fazer a indefectível pergunta, ela se adiantou e me mostrou um dos livros que estava entre suas mãos: Marcelino Pedregulho, do cartunista francês Jean-Jacques Sempé – que também é autor do livro –, lançado no Brasil pela Cosac Naify. No livro Sempé usa o humor sutil para tratar de temas curiosos. O livro trata de um menino, Marcelino, que se enrubescia por qualquer coisa e, por isso, se achava diferente, até que encontrou um amigo também diferente. É história de amizade sincera que nasce das diferenças e dos encontros que ela suscinta.

O interessante de tudo isso é que no mesmo dia, Gil havia me enviado um e-mail com o link do seu blog (http://lendoparavoce.blogspot.com/), onde ela colocou um trecho do livro, que fora emprestado de uma amiga. Achei lindo! E, entusiasmada e generosa como ela só, ofereceu o livro para eu ler.

Quero sim – respondi. Mas você não tem de devolvê-lo à Andreia? – acrescentei.

Sim, mas ele é fácil de ler. E depois a gente marca de se encontrar aqui na semana que vem.

Está bem, então. Agora estou lendo mais rápido.

Enviei aquele trecho do livro para a Michele também. E ela disse que a gente precisa se encontrar.

É verdade.

Entramos no trem e notei o outro livro que Gil carregava – Sábado, de Ian McEwan – e começamos a falar sobre nossas leituras.

– Eu agora estou lendo este (Gil mostrou Sábado) e Dom Quixote – Gil falou.

Eu não consigo ler dois livros ao mesmo tempo, apenas um – disse.

– Eu já não consigo ficar só com um.

– É que eu prefiro me debruçar só sobre aquele que estou lendo, ter a atenção voltada só para ele.

– Você é fiel.

Achei graça no comentário dela. De fato, por mais que eu tente, não consigo ler dois livros ao mesmo tempo. Depois só me interesso por um e, enquanto estou com ele, fico pensando, sonhando e ansiando pela leitura, então é difícil me dividir com outro. Depois misturo as histórias e não dá certo . Talvez seja a tal coisa da fidelidade mesmo.

Mas seja como for, fiquei fascinada pelo livro que Gil me emprestou. Tanto que fiz de tudo para terminar hoje a leitura do livro que estava lendo (ainda bem que era curto e eu estava no fim mesmo), só para começar a ler Marcelino Pedregulho. Tenho certeza de que vou gostar... já estou gostando só de olhar a capa e folhear algumas páginas. Agora, só ele me interessa.

2 comentários:

  1. o livro nada mais é que uma homenagem á amizade !!

    é...assumo que sou infiel, não consigo ficar com um só...mas amo todos com o qual fico,sem distinção!

    e sei que o Marcelino estará em boas mãos, com alguém fiel e atenciosa!

    beijos!!

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  2. E tem homenagem mais bonita do que essa, a da amizade?
    Adorei acompanhar o encontro de vocês, mesmo de longe, por aqui. Que bom que o amor pelas palavras tornou possível o nosso encontro. Que bom!

    "Mas Michele, Cecília e Gil se reencontraram."
    Beijos

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