quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Leitura compartilhada

Poucos dias atrás minha irmã falou-me do livro que está lendo, aquele mesmo que lhe dei no Natal e que ela se pôs a ler desde então: Parem de falar mal da rotina, da escritora e atriz Elisa Lucinda.

Já comentei que minha irmã não é muito fã de leituras e que quase sempre as abandona, mas desta vez ela se propôs a ler e disse que está gostando muito do livro, com o qual tem dado boas risadas. Apesar de ser um livro pequeno – tem 202 páginas –, ela ainda não terminou sua leitura, enquanto isso, eu acabei um, li três e comecei outro. Tá certo que não são livros grandes, mas li. Perto dela pareço uma leitora veloz; perto de outros leitores mais vorazes sou lenta. Prefiro me definir como uma leitora constante.

Minha irmã pode não ter terminado o livro, mas a vejo sempre carregando-o nas idas e vindas do trabalho e, de vez em quando, ela comenta uma ou outra passagem. Ela me confessou que gosta de ter a companhia do livro no trajeto da casa para o trabalho e vice-versa, talvez seja esta uma das razões pela quais ela não conclui a leitura, para continuar desfrutando da companhia desse livro em seu percurso diário e, dessa forma, colocar ainda mais humor em sua rotina.

O livro é uma adaptação da peça teatral encenada pela atriz em 2002. Na época alcançou enorme sucesso de crítica e de público, com muitas pessoas retornando ao teatro para assistir a apresentação novamente. A peça foi encenada também em Barcelona, onde fez perto de cem apresentações. E não são poucos os depoimentos de pessoas que passaram a ter uma atitude mais positiva da vida depois de assistirem à peça.

O livro fala sobre o cotidiano e a valorização das coisas simples da vida. Nele, a atriz compartilha suas impressões e emoções sobre aspectos extraordinários do dia a dia. Os capítulos e algumas cenas do livro têm títulos de cinema, TV, teatro e literatura, e as histórias contadas por ela fazem as pessoas pensarem nas suas próprias histórias. Entre estas, minha irmã fez questão de ler, em voz alta para mim, uma passagem que ela achou bem divertida. Tratava-se de uma ida de Elisa à farmácia ou perfumaria ou coisa assim, para comprar um shampoo e, tudo não teria maiores proporções se a vendedora não fizesse um comentário a cerca do tipo de cabelo da atriz, classificando-o como ruim. A partir dessa observação, Elisa tece, com muito humor, seus próprios comentários e tenta entender porquê consideram seu cabelo ruim, já que ele não faz mal a ninguém.

Foi um momento mágico, de descontração, em que pude compartilhar sua leitura e atestar seu interesse por ela. Não pude deixar de lembrar de uma passagem do livro que estava lendo – Como um Romance, de Daniel Pennac – e que mais para frente falarei, sobretudo a parte em que fala sobre a leitura em voz alta:

O homem que lê de viva voz se expõe totalmente. Se não sabe o que lê, ele é ignorante de suas palavras, é uma miséria, e isso se percebe. Se se recusa a habitar sua leitura, as palavras tornam-se letras mortas, e isso se sente. Se satura o texto com a sua presença, o autor se retrai, é um número de circo, e isso se vê. O homem que lê de viva voz se expõe totalmente aos olhos que o escutam.
Se ele lê verdadeiramente, põe nisso todo seu saber, dominando seu prazer, se sua leitura é uma ato de simpatia pelo auditório como pelo texto e seu autor, se consegue fazer entender a necessidade de escrever, acordando nossas mais obscuras necessidades de compreender, então os livros se abrem para ele e a multidão daqueles que se acreditavam excluídos da leitura vai se precipitar atrás dele.”

De fato, minha irmã se expôs lendo em voz alta, mas leu verdadeiramente. Conseguiu, dessa forma, fazer com que eu compartilhasse de sua leitura, e, por tabela, trazer mais humor na nossa rotina.

Um comentário:

  1. Cecília, que delícia o teu blog! Gostei tanto que já sou uma seguidora. Vi hoje o teu comentário no meu abandonadíssimo espaço (detalhe: foi retomado hoje, espero continuar postando) e vim te "buscar" para conhecer melhor essa moça tão simpatica que me deixou um recado e adorei. Obrigada pelas palavras! Beijão!

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