Não me considero uma pessoa ciumenta, pelo menos não da maneira como o ciúme é encarado numa relação a dois. Tenho ciúmes de amigos, das minhas roupas, dos meus objetos, do meu trabalho e do meu espaço. Mas é engraçado, não tenho ciúmes dos meus livros. Pelo menos não tanto assim que não seja capaz de emprestá-los a outra pessoa. Ao contrário, eu até gosto quando alguém indaga sobre determinado livro que tenho, porque assim posso fazer a clássica pergunta:
– Você quer emprestado?
E se a pessoa quiser, não titubeio em fazê-lo. Só que às vezes me dou mal nessa ação bem-intencionada e acabo perdendo companheiros preciosos dos quais jamais gostaria de me separar.
Foi assim com O caso dos dez negrinhos, de Agatha Christie, que havia adquirido do extinto Círculo do Livro, e que emprestei para minha prima num belo dia em que ela foi me visitar. Detalhe: eu morava na época em Indaiatuba (SP) e ela em Campinas, cidade próxima, mas ainda assim outro município e, nós, quase nunca nos víamos. Conclusão: Ela esqueceu de devolver e eu não soube mais do livro, para falar a verdade acabei esquecendo também e quando dei pela falta tive de puxar pela memória até lembrar com quem estava. Sem coragem de pedir de volta, o jeito foi comprar outro exemplar.
Com Enquanto o tempo não passa, de Josué Montello, que ganhei no trabalho, aconteceu algo semelhante. Não me lembro ao certo porque o emprestei, só sei que minha irmã o pediu para dá-lo a uma colega. Eu, claro, quis ser prestativa, mas o tempo foi passando, passando e nada da garota me devolver, até que ela saiu da empresa e minha irmã não teve mais contato. Perdi o livro.
Já quando conclui minha pós em Jornalismo Internacional, em 2004, fiz duas cópias a mais da minha monografia sobre a graphic novel Palestina, de Joe Sacco: uma para mim e outra para o meu sobrinho, a quem havia dedicado o trabalho. Como moramos juntos, os dois exemplares foram guardados comigo. Na época, uma colega de trabalho precisava fazer seu TCC e me pediu algumas dicas de como proceder com seu trabalho. Toda solícita, ofereci um dos exemplares da minha monografia para que ela pudesse se inspirar. O tempo passou, eu sai daquele emprego, nunca mais encontrei a colega e minha monografia ficou perdida. Ainda bem que tenho o outro exemplar.
Mais recentemente, no segundo semestre de 2010, emprestei Shownarlismo, de José Arbex Jr., a uma colega de trabalho, estudante de jornalismo, que me pediu para utilizar em seu TCC. O ano acabou, ela se formou, fez questão de me dizer que o livro foi bastante útil e que tirou dez em seu trabalho, mas até hoje não o devolveu. Como ainda trabalhamos juntas eu continuo esperando.
O caso mais cômico – por que não trágico? –, porém, foi com o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal , de J. K. Rowling. Não é de hoje que sou fã incondicional da série, li e tenho todos os livros e assisti aos filmes, assim, sempre que posso, promovo a saga entre meus amigos. Foi tanta e tamanha campanha que Adilson, outro colega de trabalho, resolveu ler e, óbvio, ofereci o primeiro número da série para que ele pudesse dar início à leitura. Acontece que Adilson tem um filho pequeno que está naquela fase desenhista, rabiscando tudo o que aparece a sua frente. Não deu outra, meu livro acabou na sua mira e ele prontamente deixou sua marca em algumas páginas. Neste caso, não houve muito prejuízo, já que Adilson rapidamente comprou outro exemplar para mim.
Com esse histórico eu já deveria ter ficado com um pé atrás e aprendido, mas foi só Adilson manifestar seu desejo de ler Sandman, de Neil Gaiman, para eu novamente me prontificar a emprestar mais dois livros da minha adorada coleção do personagem Sonho, que eu ainda estou formando. Mas prometeu tomar cuidado e não deixar os livros ao alcance do filho, o que já é grande coisa, porém, como estava em processo de mudança de casa, fiquei sobressaltada quando ele veio me falar dos livros em meio à bagunça das caixas e do transporte. Pensei que ele não sabia onde estavam ou que os havia perdido, mas não. Dessa vez ele foi precavido e procurou deixar os livros em lugar seguro. Ufa! Mas que os livros continuam com ele, continuam.
Por isso, não sei a razão pela qual ainda me arrisco. Mas se empresto para outras pessoas, vez por outra também pego livros emprestados, muitas vezes de bibliotecas, mas estes devolvo sem problemas. Lembro-me de que quando era adolescente, outra prima me emprestou Cabocla, de Ribeiro Couto, que li com avidez, mas nunca o devolvi, também não sei porque. Acho que minha prima não fazia questão, contudo se ela ainda o quiser, tenho comigo, e devolvo imediatamente.
Penso com meus botões que, apesar dos riscos, das tensões e das decepções eu continuarei emprestando meus livros. Não tem jeito. Certa vez li que se a gente insiste em algo que pode nos machucar é porque queremos, pois, de certa forma, ganhamos alguma coisa com isso. Acredito que assim seja, porque o prazer que experimento ao emprestar um livro é maior do que a dor que sinto de perdê-lo.
Cecília, esse é um tema sobre o qual ainda vou escrever no meu blog. Mooooorro de ciúmes dos meus livros e não gosto de emprestar. E lendo tua digressão, lembrei de vários que emprestei (em priscas eras) e nunca mais voltaram. Resultado: fiquei com raiva de novo... rsrsrs
ResponderExcluirBeijão e boa semana!
Oi, eu gosto das suas postagens e esse é um tema que eu acho delicado. Adoro emprestar livros e acho que justamente pelo fato de haver pouca gente que goste de emprestar, fico sempre torcendo para alguém ser menos desapegado. Mas tem gente que acaba abusando mesmo!
ResponderExcluirUm dia ainda vou parar de emprestar hehehe
Beijos
Paula
http://the-bookworms-club.blogspot.com
Oi, Cecilia
ResponderExcluirEu tenho um ciumes enorme dos meus livros...meu marido diz que sinto mais ciumes dos meus livros do que dele..rs..
E mesmo assim, empresto-os...mas para pouquissimas pessoas que conhecem bem minha ira qdo um livro nao eh devolvido...rs..bjs
Estava conversando ainda de manhã com minha mãe sobre isso: sou super ciumenta com meus livros, a ponto de procurar um programa de biblioteca ou similar para anotar para quem empresto e não correr o risco de esquecer.
ResponderExcluirMeu pior caso é o primeiro volume da série de Douglas Adams, O Guia do Mochileiro das Galáxias. Emprestei para um colega de trabalho que deixou no RH ao sair da empresa, mas nunca mais achei o livro de novo.
Acho muito bacana distribuir a leitura, mas se todo mundo que pegar um livro meu não devolver, não vou ter mais o que emprestar :/