terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Leitura na sala de aula

Com uma lista enorme de livros para ler, que há tempos – por que não dizer anos até – estão esperando sua vez para serem pegos, abertos, lidos e devorados, acontece comigo, vez por outra, de conhecer um novo título que me tira toda a atenção e, sem dó, nem piedade (dos outros), passá-lo à frente nas minhas leituras. De repente, ele se torna prioridade, muda minha rotina e fecha meus olhos para tudo ao redor.

Foi assim com o livro do escritor francês Daniel Pennac, Como um Romance, que eu conheci por intermédio de do blog ℓiвrυ ℓυмєท ( http://www.jefferson.blog.br/ ). Não me lembro ao certo em qual post li e o porquê, mas o fato é que a simples menção do livro levou-me a outros blogs e sites, nos quais o livro também era citado, e eu simplesmente não consegui mais parar na minha busca até, finalmente, encontrar o livro na biblioteca e pegá-lo para ler. Não me arrependi.

Gosto de livros que falam sobre livros e leituras, e Como um Romance é um destes – e um daqueles que se lê de uma tacada só – e com muito prazer. Com base na sua experiência e prática de muitos anos como professor de Literatura, o autor expõe, no livro, sua teoria de estímulo à leitura entre os jovens. Sem obrigação, e muito menos dever.

Quando aprendemos a ler, um mundo novo surge à nossa frente, um mundo em que as letras, unidas umas às outras foram palavras e essas palavras junto com mais palavras criam frases. É fascinante quando esse processo se torna claro na nossa mente, nos fazendo compreender o sentido daquele emaranhado de letras em perfeita união.

Lembro-me de que quando comecei a ler, o mundo se tornou mais visível para mim. Eu queria ler tudo e saber de tudo ao meu redor, eu mesma, sem que outros o fizessem por mim. Acho que é assim que deve ser... começamos a nos apaixonar pela leitura e, se ela é estimulada, com a leitura em voz alta feita pelos nossos pais e professores, ainda mais agradável ela se tornará quando nos dispusermos a ler, com os nossos próprios olhos.

Foi com base nessa premissa – da leitura em voz alta em classe – que Daniel Pennac levou seus alunos, já numa idade em que os aparatos tecnológicos fazem toda a diferença, tirando a atenção de outros, a interessarem-se pela leitura de livros. Já no primeiro dia de aula, Pennac se propõe a ler um livro, e abre então O Perfume, de Patrick Suskind. Aos poucos os alunos vão se interessando pela narrativa, mas a aula termina e o livro fica suspenso, até a próxima aula, quando a leitura será retomada do ponto onde parou. Nesse ínterim, alguns alunos, mais afoitos, buscam por si mesmos o livro para continuar a história e chegar logo ao seu fim.

Daí ele prossegue com outros autores, como Gabriel García Márques, Ítalo Calvino, Fiodor Dostoiévski, entre outros, sempre iniciando a leitura em classe para aguçar a curiosidade dos alunos e, assim, estimulá-los a ler por si mesmos. A esse método, Pennac entremeia o programa curricular, que os alunos absorvem sem se dar conta. O interesse pela leitura os leva a querer saber mais sobre o autor, o gênero e o estilo.

Mas, embora com todos esses estímulos, Pennac admite que nem todos continuarão a ler literatura em suas vidas. Assim, propõe uma lista de Direitos Imprescindíveis do Leitor, começando pelo Direito de Não Ler. Para ele, muitos jovens não leem por temerem não compreender a leitura, um medo comum entre a maioria dos não leitores. A intermediação de um professor em classe, neste caso, é essencial para dissipar esses receios. Basta saber conduzir – ou melhor seduzir.

Fechando, segue a lista dos Direitos Imprescindíveis do Leitor, segundo Daniel Pennac, que os disseca no livro:

1. O direito de não ler.
2. O direito de pular páginas.
3. O direito de não terminar um livro.
4. O direito de reler.
5. O direito de ler qualquer coisa.
6. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível)
7. O direito de ler em qualquer lugar.
8. O direito de ler uma frase aqui e outra ali.
9. O direito de ler em voz alta.
10. O direito de calar.

3 comentários:

  1. Que coisa mais fantástica! Preciso desse livro! Adoro livros sobre livros e sobre literatura, tenho vários. O próximo na fila de leitura é de Alberto Manguel, "À mesa com o chapeleiro maluco - Ensaios sobre corvos e escrivaninhas". Dica preciosa, Cecília, já vou à caça! Beijão

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  2. xi cecília, se vc for na minha onda d leituras, vai acabar indo atrás d mtos livros difíceis, heheheheh. porém recompensadores.

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  3. Ai, fiquei com muita vontade de ler esse. Eu já li "Uma história da leitura", do Manguel e é ótimo também.

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