terça-feira, 7 de junho de 2011

Circo e velhice

Uma das lembranças mais gostosas que tenho da infância era quando meu pai me levava, junto com minha irmã, para os espetáculos de circos. Adorava, por exemplo, ver os equilibristas, malabaristas, contorcionistas e palhaços darem seus shows naquele grande picadeiro. E quando entrava os animais então, nossa, era puro fascínio!

Claro que naquela época ainda não havia a consciência dos maus tratos que os animais sofriam nos circos, mas quando isso se tornou mais evidente, toda aquela magia perdeu um pouco do encanto. Mas, ainda assim, ficaram algumas lembranças que só a infância bem vivida pode proporcionar.

Por isso, quando meses atrás vi no cinema o trailer do filme Água para Elefantes fiquei ansiosa para assisti-lo, mas, antes da estreia, resolvi ler o livro, escrito por Sara Gruen, e conhecer melhor a história.

A leitura terminou há algum tempo, o filme estreou, não fui ver nas primeiras semanas, acabei perdendo o interesse, ele saiu de cartaz e acho que não verei em DVD.

O livro? Ah, sim, o livro é envolvente, cativa, prende a atenção, enfim, é puro entretenimento. E só.

A história gira em torno de Jacob Jankowski, no começo do livro já um senhor que vive numa casa de repouso. Boa parte de sua vida ele guardou em segredo o fato de ter trabalhado em circo. Quando jovem,ele era um estudante de Veterinária, prestes a se formar, quando uma tragédia pessoal mudou o rumo da sua vida: seus pais morreram em um acidente de carro e, transtornado, Jacob deixa a faculdade, larga tudo e parte sem rumo até entrar no trem do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra.

Os conhecimentos em Veterinária garantem-lhe um trabalho no circo como cuidador dos animais. Ali, ele pena nas mãos de August, o treinador dos bichos, e se apaixona pela mulher deste, Marlena, a estrela do circo, e pela elefanta Rosie. Esta, a princípio, um animal incapaz de aprender, mas que se revela um bicho esperto ao longo da trama.

De fato, é uma história envolvente, que fala da vida em circo, animais, amor e, sobretudo, de velhice. Não pude deixar de notar isso e, por vezes, me senti deprimida em alguns trechos da trama, como este:

Tenho 90 anos. Ou 93. Uma coisa ou outra.
Quando temos cinco anos, sabemos até os meses de nossa idade. Mesmo por volta dos 20 sabemos quantos anos temos. Tenho 23, dizemos, ou talvez 27. Mas quando chegamos aos 30, algo estranho começa a acontecer. A princípio, é um mero sobressalto, um instante de hesitação. Quantos anos você tem? Ah, eu tenho – você começa confiante, mas depois para. Ia dizer 33, mas não é essa a sua idade. Você está com 35 anos. E isso o incomoda, pois você fica imaginando se não é o início do fim. Claro que é, mas ainda faltam décadas para você admitir isso.”

E a trama segue por esse caminho, entremeando a vida de Jacob na casa de repouso – e suas considerações sobre a velhice –, com as lembranças da juventude, quando ele trabalhava no circo, e as descobertas que essa vida lhe proporcionava.

Quanto ao relato dos animais, claro, me emocionei e fiquei encantada com a maioria deles. Mas sofri também – e chorei – ao ver a forma como eram tratados (talvez seja por isso que não quis assistir ao filme) pelo treinador, com violência e sem o menor cuidado. Sem falar que fiquei admirada – e indignada – ao saber que o circo – e acho que a maioria deles deveria ser assim, num passado longínquo – comportavam ursos, girafas e outros animais de grande porte. Bichos que nem cheguei a ver – graças a Deus – nos áureos tempos em que frequentava circos.

A autora, Sara Gruen, é uma escritora nascida no Canadá, mas com dupla nacionalidade, canadense e estadunidense. Segundo pesquisa na internet, seus livros tratam principalmente de animais e ela é uma incentivadora de numerosas organizações de caridade que apoiam os animais e a vida destes em seu habitat natural.

Menos mau.

3 comentários:

  1. Todas as vezes que vejo esse livro fico com vontade de comprar, talvez por se tratar de uma história de animais, paixão antiga. Agora vou repensar, pensei que tinha uma abordagem diferente.

    Assim como vc eu também amava circo com animais, crianças não têm conhecimento da crueldade que os leva até ali. Ainda bem que o amadurecimento nos leva a mudanças de conceito!

    Bjs

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  2. Sabe que ainda não li este livro, apesar de tanta gente dizer que é muito bom.
    Mas sabe que nunca gostei de circos, exceto prelos palhaços. Nunca gostei de ver os animais confinados, nem dos mágicos nos enganando, nem dos trapezistas arriscando a vida ...
    fui ao circo um ou duas vezes, acho que nem duas. Meus filhos adoravam e eu pedia a mamãe para levá-los, mas nem por eles eu ia.
    Sua resenha está muito linda e emocionante, acho que você gostou muito do livro.
    Beijos

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  3. Imagina, não peça desculpas pelos erros! Eu reviso trezentas mil vezes meus textos e sempre tem erros...uhahuaahuauh!

    E eu é que peço desculpas, vi seu blog, gostei, mas estava na correria e só segui. Porque antes eu ficava tentando decorar os endereços para depois mandar recadinho e seguir, tudo certinho...aí acabava esquecendo o endereço e nunca mais achava, haha! Então para garantir, segui!!

    Sobre o livro do post, estou com ele aqui em casa, e provavelmente o lerei na semana que vem. O comprei em uma promoção, sem nenhuma pretensão, mas o fato de a história ser contada por um "velhinho" já me conquistou. A temática do circo ficou em segundo plano, admito. Até porque eu nunca gostei de palhaços e fazia meus pais passarem vergonha na rua quando algum se aproximava de mim, quando criança...abria o berreiro, haha. Até hoje não sei o motivo. Mas acredito que por causa disso eles nunca me levaram ao circo. Gostaria de assistir a um espetáculo um dia...sem animais, mais moderninho. Voltando para o livro, acho que vou me emocionar, mas...vou esperar, aí conto! Haha!!

    Beijos!!

    Ps: te segui porque também gostei muito do seu blog! Adoro "ler" pessoas que escrevem bem e com profundidade :D
    Ps2: e Watchmen está me surpreendendo muito! O filme já foi tão "chocante", e os quadrinhos estão conseguindo me chocar mais ainda!

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