segunda-feira, 27 de junho de 2011

Por que você lê?

Walcyr Carrasco é um autor de telenovelas de sucesso e escreve textos belíssimos, como a crônica “Um livro, uma vida”, publicada nesta semana na revista Veja São Paulo ( http://migre.me/57WGW ). Nela, Walcyr fala da importância que Reinações de Narizinho, o livro de Monteiro Lobato, teve na sua vida e na decisão de se tornar escritor.

Ele tinha 12 anos quando o livro lhe fora emprestado e, depois de “devorá-lo”, sentiu que um mundo novo se abria para ele. A partir daí, leu outros títulos da coleção e não parou mais.

A crônica me fez lembrar que, recentemente, no blog Fio de Ariadne ( http://fio-de-ariadne.blogspot.com/ ), da Vanessa, li um post que exibia no alto a pergunta: “Por que você lê? Hein?” e lançava o desafio aos seus seguidores para que respondessem a questão em um tipo de blogagem coletiva.

Salvo exceções, que infelizmente ainda hoje existem – e como existem –, aprendemos a ler quando crianças, mas nem todos se tornam leitores contumazes quando adultos.

Quando aprendi a ler, perto dos sete anos de idade, lembro-me do quanto o mundo das letras descortinou-se à minha frente. Assim, toda e qualquer palavra escrita não escapava aos meus ávidos olhos e me punha, pacientemente, a decifrá-la com fascínio e prazer.

Meus primeiros companheiros nessa aventura, quando ler tornara-se mais presente na minha rotina, foram revistinhas e suplementos infantis, clássicos da Disney e histórias em quadrinhos. Destes até o primeiro romance que li, A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, aos 11 anos, foi um passo natural, mas o verdadeiro mundo da leitura, essa que se faz por querer e por deleite, só se materializou na minha vida muito tempo depois, quando eu tinha 15 anos. E o grande propulsor nesse caminho foi Fogo Morto, o romance regionalista de José Lins do Rego.

Talvez eu já gostasse de ler, afinal, em casa, meu pai sempre estimulava a leitura comprando jornais, revistas e mantendo uma biblioteca extensa na nossa sala de estar, mesmo que os livros fossem mais didáticos, centrados no mundo da História e da Filosofia. A vontade ler, no entanto, só passou a ser percebida, em mim, depois do romance de Lins do Rego.

Depois desse livro tive vontade de ler outros do autor e mais outros no mesmo estilo, até que fui apresentada a uma biblioteca escolar, quando fazia o 2º grau, que me encantou, sobretudo pela bibliotecária do local, uma mulher extremamente capacitada e apaixonada pelos livros. E essa mistura entre livros e biblioteca foi fundamental para me firmar como leitora. E, mais, decisiva para escolher a profissão de Jornalista, que queria exercer, por aliar a leitura à escrita, outra de minhas paixões.

Hoje, cada vez mais convencida da importância da literatura e do quanto ler é prazeroso, prossigo lendo, ampliando meus horizontes, alimentando minha imaginação, fazendo amigos e espantando dissabores, porque ler também é terapêutico e muito saudável.

Agora mesmo estou lendo – ainda no início – A elegância do ouriço, da romancista francesa Muriel Barbery, cujo um dos personagens, Renné, a zeladora do prédio onde se passa a história, é uma mulher de meia-idade, pobre e sem muitos atrativos, mas extremamente culta. Em uma passagem ela conta sua infância difícil, a falta de relacionamentos por causa das diferenças sociais e do quanto sua vida era insignificante, até que uma professora chamou-lhe pelo nome e aquilo foi uma revelação – dela mesmo – para ela. E como, a partir daquele momento, sua vida foi redirecionada por um objeto lenitivo.

Já que minha fome não podia ser aplacada no jogo de interações sociais que eram inconcebíveis por minha própria condição – e compreendi isso mais tarde, essa compaixão nos olhos de minha salvadora, pois algum dia já se viu uma menina pobre penetrar na embriaguez da linguagem e nela se exercitar junto com os outros? – ela o seria nos livros.”

Realmente ler é muito prazeroso – e terapêutico. Por isso eu leio. E você?

3 comentários:

  1. Porque concordo com Roland Barthes quando disse "A literatura não permite caminhar, mas permite respirar". E tenho dito. Beijossss (nem acredito que consegui postar, após várias tentativas)

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  2. Bem, minha história com a leitura SEMPRE foi natural. Li minha primeira história da Turma da Mônica aos 4 anos de idade. Minha mãe havia me dado a revista pensando que eu ia apenas apontar para os balões ou falar coisas bobinhas, mas acabei, mesmo lentamente, conseguindo ler tudo, porque sempre fui bem atenta às palavras ao meu redor e gostava de ouvir os adultos falando. Sempre gostei de estudar, escrever (escrevi um livro aos 8 anos de idade. Não foi publicado e eu perdi o manuscrito durante uma mudança. Não sei se fico triste ou feliz com isso até hoje, haha), mas nunca havia lido nada além de gibis e livros de história. Somente aos 17 anos, no cursinho, é que comecei a tomar gosto pela leitura, graças aos poemas de Alberto Caeiro. No começo, mesmo empolgada, ainda lia pouco...hoje o meu ritmo é bem mais acelerado, porque de fato, ler aumenta os horizontes, alivia as dores do coração, te faz refletir sobre coisas óbvias, mas que você jamais havia reparado, te faz sonhar, entre outras milhares de sensações. É o melhor "costume" e a melhor "rotina" que tenho. Leio porque me faz bem, mesmo que me arranque lágrimas no final e mesmo que faça meu coração doer. SEMPRE me faz bem! =)

    Um grande beijo!!

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  3. Cecilia, você esta lendo A elegância do ouriço, que bom. É um livro maravilhoso!Têm-se muito o que aprender com ele, é filosofia pura!
    Quando a dizer por que eu leio... eu tenho uma história de amor com os livros, e quem me acompanha sabe. Mas o que ninguém sabe é que quando eu me casei eu não levei meus livros, para a nova vida, pois minhas relíquias estavam ótimos na estante do meu quarto de solteira. Anos depois minha mãe resolve fazer um limpa no tal quarto e me devolve os livros. Meu marido foi contra aquele monte de livros velhos, cheios de bolor,num apartamento pequeno com duas crianças - a grande maioria desses livros tinham sido dado por um ex namorado de muitos anos, entendeu? - Então eu os doei, não fiquei com nenhum- eram varias caixas, e foram todas para uma livraria circulante. Passaram-se muitos anos, e anos. Um dia o zelador do prédio veio a mim e disse: Dona Mônica, eu encontrei no lixo um livro de poesia, e como sei que a senhora gosta de ler, eu queria saber se eu o trago para senhora ver. E na hora eu mesma fui lá pois poderia ter mais. Quando vi o livro, era um livro de soneto do Vinicius de Morais, igual ao que eu tinha antigamente. Mas, para minha surpresa, quando eu folheie o livro eu percebi que o livro era o meu. Chorei, chorei, chore! Eu costuma ler os poemas e fazer comentários ao lado. E lá estavam todos eles, bem marcado, bem rabiscados.
    Então juntando estas e mais outras é que eu convenço que eu vim ao mundo também para ler e ser amada pelos livros, sim, eles me amam muito.
    Beijos

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