O Brasil apresenta uma grande diversidade de sotaques, dialetos e gírias, de acordo com a região do país. Essa variedade foi sendo construída ao longo do tempo, com a colonização portuguesa e, também, com a contribuição da língua indígena falada nos primórdios e modificada com a introdução de novas formas trazidas por escravos negros e imigrantes europeus e asiáticos. O resultado foi uma mescla de sotaques que se caracterizam por região.
Dentre os sotaques existentes, tenho uma predileção pelo nordestino. Acho gostoso o ritmo cadenciado e lento com que se expressam, ainda que em alguns casos incompreensíveis. E uma das formas de manifestação mais expressiva desse povo é a linguagem de cordel, traduzida na literatura.
Para entender melhor o significado da expressão, vale lembrar que cordel quer dizer corda pequena. A classificação do termo como gênero literário vem dos portugueses, que costumavam pendurar as cartilhas com os escritos em barbantes nos locais em que as obras eram postas à venda.
Os livros em cordéis são impressos em papéis rústicos e apresentam ilustrações em xilogravura. São escritos geralmente na forma rimada, originados de relatos orais acompanhados de viola. Frequentemente apresentam estrofes de dez, oito ou seis versos, sendo esta última – denominada de sextilhas – a mais conhecida. A estrofe tem seis versos de sete sílabas, com o segundo, o quarto e o sexto rimados. Uma delícia de ouvir, ver, ler e falar.
Assim, foi um achado descobrir um livrinho joia que mostra, exemplarmente – e didaticamente – essa forma de expressão: Lições de Gramática em Versos de Cordel, de Janduhi Dantas Nóbrega, professor de cursinhos pré-vestibulares em Patos (PB) e região, e divulgador da Literatura de Cordel nas escolas em que trabalha.
Autor também de vários folhetos em cordel, Janduhi foi incentivado a escrever por seu irmão mais velho, quando ainda era adolescente. A ideia de fazer um livro que aliasse a arte popular com a Gramática partiu da necessidade de seus filhos em estudar a matéria para a escola e, para ajudá-los, resolveu fazer versos em cordel para melhor memorizarem as regras. No final do livro, Janduhi ainda conta, em versos, que este era um desejo que há tempos acalentava. O interessante é notar que cada estrofe do verso inicia-se pelas letras do seu nome, formando um acróstico:
Juntei, leitor, neste livro
A arte com a profissão:
No Cordel pus a Gramática
Do Português, uma paixão.
Uma ideia acalentada
Há tempos, realizada,
Isso dá satisfação.
O livro destina-se a alunos e professores que trabalham com o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), para o público do Ensino Médio, do Ensino Fundamental, mas também para todos que se interessam – e gostam – da Língua Portuguesa.
O artifício usado por Janduhi ajuda a memorizar regras e preciosidades gramaticais em Fonologia, Semântica, Morfologia e Sintaxe, com rápidas pinceladas nas principais mudanças do Acordo Ortográfico, o que, sem dúvida, facilita o estudo e o aprendizado do Português. Algumas são bem divertidas, como:
TIGELA, COM G
A “tijela” que é com j
É furado o fundo dela:
tigela não é com j,
Com um g se grafa ela.
Lembre-se da brincadeira:
“Meu coração por ti gela”.
Se quiser conhecer mais sobre esse gênero literário e a tradição da Literatura de Cordel, vale a pena conferir o 1º Festival de Cordel, que está acontecendo no Centro de Tradições Nordestinas (CTN), em São Paulo, até o dia 6 de outubro. São oficinas, saraus, cinema e palestras, além de um concurso para premiar os 20 melhores trabalhos em cordel. Estes podem ser enviados até o dia 11 de setembro próximo (pela internet) e 9 de setembro pelo correio.
Saiba mais em http://www.festivaldecordel.com.br/
Obrigada pela dica. Apesar de nordestina e de amar a nossa cultura, não conhecia o cordelista. Vou pesquisar a obra dele.
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