sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A poesia de Neruda

Na década de 1980 o poeta chileno, Pablo Neruda, foi questionado acerca da sobrevivência da poesia no século seguinte. Sua resposta, poética e metafórica, consta no livro Para nascer he nacido:

Perguntam o que acontecerá com a poesia no ano 2000.
É uma pergunta difícil. Se esta pergunta me assaltasse num beco escuro me levaria um susto de pai e senhor meu.
Porque, o que sei eu do ano 2000? Do que estou seguro é de que não se celebrará o funeral da poesia no próximo século.
Em cada época deram por morta a poesia, mas ela se vem
demonstrando vitalícia, ressuscita com grande intensidade
parece ser eterna.
A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores,
conduziu às vitórias, acompanhou os solitários,
foi ardente como fogo, ligeira e fresca como a neve,
teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera:
fincou raízes no coração do homem.

Ao ler esta passagem, no belo livrinho Presente de um Poeta, da Coleção Melhor dos Melhores, publicação da Vergara & Ribas Editores, que reúne alguns dos poemas inesquecíveis de Neruda, pensei que a afirmação do poeta nunca foi tão verdadeira. A poesia foi, está e estará sempre permeando nossas vidas.

Em nosso país, por exemplo, entre os finalistas do prêmio Jabuti deste ano, na categoria Poesia, recém-divulgados, encontram-se notáveis poetas brasileiros: Ferreira Gullar, com Em Alguma Parte Alguma; Adélia Prado com A Duração do Dia; Alberto Martins, com Em Trânsito; e Manoel de Barros, com Obra Completa, entre outros. A disputa, nesta categoria, deverá ser o páreo mais duro e emocionante da premiação, como anunciou o blog Veja Meus Livros.

Mas, voltando a Neruda, sua poesia tem ultrapassado os limites do tempo e vem se tornando perene. Não é à toa que ele é considerado como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX.

O livro Presente de um Poeta, que caiu às minhas mãos por acaso e que li com avidez, divide-se em quatro capítulos: O amor / A terra / A poesia / O homem, reunindo algumas poesias constantes nos livros publicados por Neruda ao longo da sua vida, como Confesso que vivi, 20 poemas de amor e uma canção desesperada,Cem sonetos de amor, Crepusculário e Para nascer nasci. Entre elas, esta de Crespusculário

Que a terra me floresça nas ações
como no ouro suculento das vinhas,
que perfume a dor de minhas canções
como um fruto esquecido na campina.

Que me transcenda a carne a semeadura
ávida de brotar por toda a parte,
que minhas artérias levem água pura,
água que canta quando se reparte!

Desnudo quero estar sobre sarmentos,
pisado pelos cascos inimigos,
quero me abrir e repartir sementes
de pão, eu quero ser de terra e trigo!

O livro tem tradução do poeta Thiago de Mello, que foi amigo de Neruda e possui mais de 20 livros publicados, alguns deles em vários idiomas. A obra conta, ainda, com belíssimas ilustrações da pintora grega Dafni Amecke Tzitzivakos. Um primor!

Neruda era filho de um operário ferroviário e de uma professora primária, que morreu quando ele tinha apenas um mês de vida. Seu nome de batismo era Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mas na adolescência, inspirado no escritor checo Jan Neruda, adotou o pseudônimo de Pablo Neruda, passando ser este, seu nome de fato.

Além da poesia, Neruda atuou na política e chegou a ser senador. Ns anos de 1970 foi candidato à presidência da república do Chile, mas desistiu em favor de Salvador Allende. Morreu em Santiago em 23 de setembro, há exatos 38 anos, de câncer na próstata. A escritora chilena Isabel Allende, em seu livro Paula, afirma que Neruda morreu de "tristeza" ao ver dissolvido o governo de Allende pelo golpe militar de Augusto Pinochet.

Neruda tinha a alma sensível, alma de poeta. Foi um grande mestre do gênero, que encantou, encanta e encantará gerações futuras, porque, conforme suas palavras...

Minha fé em todas as colheitas do futuro se afirma no presente.
E declaro, por muito que se saiba, que a poesia é indestrutível.

3 comentários:

  1. Taí o Neruda...o meu ex-sogro, que é chileno, sempre me falava muito dele, e eu sempre dizia que ia ler, mas acabava adiando. Mas nunca me esqueço das conversas que tínhamos sobre o Neruda eram bastante enriquecedoras =D Não tenho mais contato com meu ex-sogro, mas agora, mais do que nunca, tenho vontade de ler, talvez para relembrar coisas tão legais.

    E poesia é e sempre será atemporal, seja lá como ela será feita daqui 100 anos, sempre vamos precisar nos expôr assim :)

    Grande beijo!! E depois que ler, te conto o que achei do Nerudinha :P

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  2. Cecilia, adorei conhecer um pouco mais sobre Neruda. Achei curioso ele ter adotado o pseudônimo de Pablo Neruda, não sabia...

    Eu tenho lido Manoel de Barros e, caramba, vai ser bom assim, né? O que tem me despertado na poesia é essa coisa de criar do "nada", e fica tudo tão lindo. Acho que a poesia alimenta quem escreve em prosa.

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  3. Cecila, estive em 2 casas de Pablo Neruda a de Santiago e a de Valparaíso. Um dia faço um post sobre isso no blog e ti aviso.
    Li muito este poeta quando fazia faculdade, é muito emocionante e apaixonado. Linda sua homenagem.Bju

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