terça-feira, 6 de dezembro de 2011

(imaginária) Estante excêntrica

Em um dos ensaios do livro Ex-libris: confissões de uma leitora comum, intitulado “Minha Estante Excêntrica”, a escritora e jornalista Anne Fadiman fala sobre sua coleção de livros, “cujos assuntos não têm a menor relação com o restante da biblioteca, embora, numa investigação mais detalhada, revelam um bocado sobre seu dono.”

Segundo ela, ainda, todo leitor possui uma Estante Excêntrica também. No caso do escritor George Orwell, autor de clássicos como 1984 e A Revolução dos Bichos, sua biblioteca continha uma coleção encadernada de revistas para senhoras da década de 1860; já Philip Larkin, poeta inglês, dispunha de uma estante repleta de pornografia, com ênfase em espancamento.

A Estante Excêntrica de Anne Fadiman contém 64 livros sobre explorações polares, que trazem narrativas de expedições, periódicos, coleções de fotografias, trabalhos de história natural e manuais de navegação. “Meu interesse é solitário. Não posso comentá-lo em coquetéis. Sinto-me algumas vezes como se tivesse passado grande parte da vida aprendendo uma língua morta, que ninguém conhecido consegue falar”, comenta a escritora no ensaio.

Se Anne estiver certa, como leitora, eu também devo ter a minha Estante Excêntrica. Durante muito tempo fiquei pensando nela, hipoteticamente falando, já que não tenho uma biblioteca física, apenas um amontoado de livros – que crescem a cada dia – encarcerados no meu guarda-roupa, clamando por libertação.

Pensei que ela podia ser de livros que falam sobre livros, como este, da Anne Fadiman, Ex-libris: confissões de uma leitora comum, publicado no Brasil em 2002, pela Jorge Zahar Editor, e que se constitui em uma verdadeira declaração de amor aos livros. Por meio de ensaios, a autora fala de bibliotecas, da sua em particular e da relação que tem com os livros.

Além deste, tenho outros sobre o mesmo assunto, como Os livros e os dias, de Alberto Manguel; A casa de papel, de Carlos María Domínguez; Como te leio? Como-te livro! de Marcia Grossmann; e No Mundo dos Livros, de José Mindlin, entre outros. Mas acho que ainda não seria esta a Estante Excêntrica, mesmo porque ela é óbvia demais para quem gosta de livros.

Depois de muito pensar – e nem precisava ser tanto assim porque a resposta estava bem à minha frente – descobri que minha (imaginária) Estante Excêntrica é composta por uma coleção de quadrinhos. Sim, quadrinhos. O que tem de excêntrico nisso? Bom, se pensar que já não sou uma adolescente ou uma jovenzinha e que meu interesse pela arte surgiu depois dos 40, aí então é algo que pode ser considerado excêntrico.

E mais: gosto de livros, mas acho que gosto mais de bibliotecas, assim vivo frequentando elas para emprestar livros, mas em se tratando de quadrinhos, faço questão de comprá-los. Assim, comecei a formar uma pequena – sim pequena mesmo – coleção que hoje tem cerca de 40 volumes, entre graphic novels, mangás, livros e álbuns, mas sobretudo graphic novels, ou romances gráficos. E uma lista enorme de outros tantos a adquirir.

Entre os títulos que tenho estão as reportagens em quadrinhos do jornalista e cartunista Joe Sacco: Palestina – Uma nação ocupada, Palestina – Na faixa de Gaza, Área de segurança – Gorazde, Uma história de Sarajevo e Derrotista, este último um quadrinho mais biográfico. Além destes, dois títulos sobre o guerrilheiro Che Guevara, um do coreano Kim Yong-Hwe, e outro do roteirista argentino Hector Oesterheld e do desenhista uruguaio Alberto Breccia.

Do mestre Will Eisner, que popularizou a expressão graphic novel, tenho A força da vida e Quadrinhos e arte sequencial, embora tenha lido outros títulos dele. Do escritor Neil Gaiman, possuo oito volumes de Sandman, publicados pela Conrad Editora (é faltam dois números), Stardust em parceria com Charles Vess (desenhos), 1602 com desenhos de Andy Kubert e Os livros da magia, dividida em quatro revistas, cada uma desenhada por um artista diferente (em ordem, John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess e Paul Johnson).

Ah, não posso esquecer de citar Art Spiegelman, com À sombra das torres ausentes, escrita depois do 11 de setembro; Frank Miller com 300, que foi levado às telonas; Alan Moore e David Lloyd com V de Vingança, que adquiri depois de assistir ao filme; e Didier Lefèvre (argumento e fotografias), Emmanuel Guibert (roteiro e desenhos) e Frédéric Lemercier (diagramação e cores) com O fotógrafo, um encadernado em três volumes que fala da experiência de atravessar o Afeganistão a pé em 1986 para registrar a expedição da organização Médicos Sem Fronteiras. Um marco também no jornalismo em quadrinhos.

E, claro, os brasileiríssimos Fábio Moon e Gabriel Bá, os quadrinistas gêmeos, com seu 10 pãezinhos – A crítica e a recém-lançada graphic novel Daytripper, que conta a história de Brás, brasileiro do sul do país, escritor e editor de obituário de um jornal. Destacando diferentes momentos da vida do personagem, que tenta ainda fugir da sombra do pai, o texto centra-se na busca de um caminho para a vida.

Já que não dá para falar de todos, esta é uma pequena mostra da minha (imaginária) Estante Excêntrica, e que pode ser melhor apreciada virtualmente na minha estante de quadrinhos no Skoob - http://www.skoob.com.br/estante/quadrinhos/todos/32747/page:1/  Ali, pelo menos ela está organizada.

A única dúvida, agora, é saber se esta Estante revela algo de mim. Mas isto é assunto para um outro post.

2 comentários:

  1. Oi, Cecilia
    Adoro esse livro da Anne Fadimman e tambem tenho muitos livros sobre livros, mas precisaria pensar se tenho minha "estante excentrica"..rs..vou dar uma olhada depois! Bjs

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  2. sua estante é muito rica, adoro livros, mas os livros de cada um sào os melhores.
    Dependendo do fuçador, pode ou não me dizer se tenho uma estante excêntrica. Pois esta sua é excêntrica para você, mas para um adolescente, já não é. Então acho que possuo a minha, pelo ponto de vista do adolescente, já que é abarrotada de livros clássicos.
    Adoei o post.Bju

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