sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Lendo Clarice

Contista, cronista, romancista, jornalista. Clarice Lispector transitou por todos os gêneros literários, deixando em cada um sua marca indelével de grande escritora. Não é à-toa que tem uma legião de leitores apaixonados, muitos destes súditos jovens internautas que usam a rede para propagar os escritos e declarar seu amor à escritora.

Apesar de amplamente divulgada, ainda assim não sei por que li pouca coisa de Clarice, mas lembro-me bem de um conto, que ouvi – e li – há quase dez anos, chamado Felicidade clandestina, que me tocou profundamente. Nele, a narradora, fala sobre sua infância no Recife e do quanto gostava de ler, mas, por ser pobre não comprava muitos livros, e acabava emprestando de uma colega. Quando esta informou-lhe que tinha “As reinações de narizinho”, de Monteiro Lobato, e que iria emprestar-lhe, a menina ficou eufórica. No entanto, isso não acontecia, pois a colega sempre inventava uma desculpa para não entregar o livro. Até que a mãe da colega, percebendo o que acontecia, recriminou a atitude da filha e emprestou o livro à menina. Esta, encantada, adiava o máximo que podia a leitura para melhor saboreá-la depois, fazendo questão de “esquecer” que tinha o livro, só para depois surpreender-se encontrando-o. A comparação que a narradora faz, ao final, revela sua felicidade clandestina: "Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante."

E qual não foi minha alegria quando este conto, outra vez, caiu em minhas mãos na leitura de Clarice na cabeceira, seleção afetiva de 22 contos de Clarice Lispector, escolhidos por escritores, atrizes, cineastas, cantoras, críticos literários e jornalistas. O livro, que foi publicado em 2009 pela Editora Rocco, foi organizado por Teresa Montero, doutora em Letras pela PUC-RJ e autora de Eu sou uma pergunta. Uma biografia de Clarice Lispector, também publicado pela Rocco.

Clarice na cabeceira reúne contos de cada um dos seis livros da produção contista da escritora. São eles: Laços de família (1960), A legião estrangeira (1974), Felicidade clandestina (1971), A via crucis do corpo (1974), Onde estivestes de noite (1974) e A bela e a fera (1979).

O conto Felicidade clandestina é apresentado pela atriz Malu Mader, que o escolheu, entre outros de sua preferência, pelo título: Quando o li pela primeira vez pensei: “Isso sou eu.” É assim que me sinto em relação à Clarice Lispector: apesar de ser ela puro mistério, quando estou com um livro seu aberto no colo, em êxtase puríssimo sou uma mulher com sua amante, sou uma criança descobrindo o mundo.

Os contos, em sua maioria, trazem mulheres como protagonistas, muitas em questionamento sobre a vida, tentando fugir ao seu destino, mas retornando infalivelmente a ele, embora sobre outro ângulo. Dentre estes, Ruído de passos, apresentado por Adriana Falcão; A fuga, por Artur Xexéo, A procura de uma dignidade, por Benjamin Moser; e A língua do “P”, por Fernanda Takai.

Pela Rocco, foram publicados, ainda, em 2010, Clarice na cabeceira – Crônicas, também organizado por Teresa Montero; e este ano, Clarice na cabeceira – Romances, organizado por José Castello.

Como porta de entrada ao mundo ficcional da escritora, a série Clarice na cabeceira é um gostoso aperitivo, que desperta ainda mais o interesse pela sua obra. Quero fazer desta aventura a minha Hora de Clarice, numa perfeita sincronia com o projeto Hora de Clarice, iniciativa do Instituto Moreira Salles em parceria com a Editora Rocco, que divulgará e homenageará a escritora no dia 10 de dezembro, data em que Clarice completaria 91 anos.

Para saber e acompanhar a programação do dia, acesse: http://www.claricelispector.com.br/agenda.aspx

Curiosamente, em 9 de dezembro faz 34 anos que Clarice morreu.

3 comentários:

  1. Ouvi esse texto (Felicidade Clandestina) numa gravação do You tube e também me tocou profundamente. Tal como o único livro que li de Clarice, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Já li há vários anos e de vez em quando releio.
    Vou acompanhar a iniciativa que você divulga nest post. Pode ser que seja também a minha Hora de Clarice...

    ResponderExcluir
  2. a menina é a própria Clarice quando menina, quando morou em Recife, não li o conto mas a linda biografia escrita pelo Benjamin Moser. Nossa, deu até vontade de relê-lo...

    ResponderExcluir
  3. Li quase tudoda Clarice há mais de 20 anos, ela continua sendo a minha escritora favorita de todos os tempos. Ganhei a biografia recém lançada no Brasil de presente de um amigo e não vejo a hora de ler. Clarice na cabeceira eu também tenho, é maravilhoso mesmo.

    Bom, achei seu blog por acaso mas pretendo visitar mais vezes. Venha conhecer meu blog, sou leitora ávida desde que me conheço por gente. Não é um blog só de livros mas tenho um marcador Livros para minhas leituras!

    ResponderExcluir