A minha expectativa era toda para Ribamar, o livro de José Castello que estou terminando – e amando –, mas os resultados apontaram para o reverso da prosa, porque o Prêmio Jabuti de Livro do Ano de 2011, em ficção, foi concedido a Em alguma parte alguma, de Ferreira Gullar.
Poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta, Ferreira Gullar é o pseudônimo de José Ribamar Ferreira. E quem diria, o mesmo prenome do pai de José Castello, a quem ele dedicou o livro Ribamar. De certa forma, minha torcida surtiu efeito, e a premiação mais do que merecida.
Devo confessar, porém, que no íntimo já estava virando casaca. Afinal, presente à cerimônia de premiação do 53º Prêmio Jabuti, na Sala São Paulo, Ferreira Gullar ficou me “rondando” – ou eu a ele – durante o coquetel que precedeu o evento.
Quando o vi entre os convidados espalhados pelos salões e corredores que antecedem o auditório da Sala São Paulo (e aqui preciso fazer um parênteses sobre o lugar, um espaço belíssimo que, quando conheci, tive uma impressão que nunca mais me saiu da cabeça: o de ostentação em meio a uma região fétida, povoada de moradores de rua e consumidores de crack. Impossível não sentir o impacto e o incômodo da diferença ao entrar e sair do espaço), fiquei admirada, tanto pela sua fragilidade física quanto pela sua força poética.
O mais engraçado nisso tudo é que por onde eu ia, Ferreira Gullar esbarrava pelo meu caminho até que, cansada, sentei em uma dos bancos existentes ao longo do salão. De repente senti que alguém me empurrava, tentando sentar-se às minhas costas, e já ia reclamar quando, para minha surpresa, reparei que era o poeta. Fiquei sem graça, ainda mais quando a mulher que o acompanhava disse: “que sorte a sua”. Sorri, concordando.
Fiquei ali um bom tempo, o suficiente para ver que ele era o mais requisitado em fotos, entrevistas, autógrafos, tietagem. E, mais, cedendo a eles com simpatia e cordialidade. Claro, não me furtei da oportunidade para, também, me fotografar ao seu lado.
O Prêmio
O Jabuti é o mais tradicional prêmio do setor editorial brasileiro e tornou-se referência para o mercado. Foi criado em 1958 e recebeu esse nome emprestado de um dos personagens da literatura infantil de Monteiro Lobato: o jabuti, uma tartaruga vagarosa, mas esperta e obstinada a vencer obstáculos, ludibriando concorrentes para chegar à frente na jornada.
A cerimônia de premiação foi longa, apresentada por um Pedro Bial sorridente, mas por vezes apressado. Era justificável, afinal, foram laureados os autores 1º, 2º e 3º colocados de 29 categorias! Ferreira Gullar, com Em alguma parte alguma, foi o vencedor em Poesia; José Castello, com Ribamar, em Romance (confira no link os vencedores de todas as categorias: http://www.cbl.org.br/jabuti/telas/resultado/resultado_categoria.aspx?f=2
O ponto alto da festa, no entanto, ficou para o final, quando foram anunciados os ganhadores do Jabuti de Livro do Ano de Ficção e Livro do Ano de Não Ficção, escolhidos entre os primeiros colocados em cada uma das categorias. E os grandes vencedores da 53ª edição foram Ferreira Gullar e o historiador e jornalista Laurentino Gomes.
Gullar consagrou-se com Em alguma parte alguma, considerado o Livro do Ano de Ficção, e editado pela José Olympio. Já Laurentino recebeu o troféu Livro do Ano de Não Ficção com 1822, editado pela Nova Fronteira, que venceu na categoria Reportagem. Para ele, “a história serve para iluminar o passado, compreender o presente e construir o futuro. Queria fazer uma homenagem a todos os historiadores brasileiros, aos livros nos quais eu bebo para fazer os meus.”
E, lembrando que no meu post anterior indaguei sobre a utilidade da poesia, vale aqui lembrar as palavras de Gullar, ao receber o prêmio: "estou ganhando este prêmio num ano em que a José Olympio completa 80 anos a serviço da literatura brasileira. Não sei se poesia é literatura. Fora isso, fazemos poesia porque a vida não basta”. Esta é a resposta que buscava.
AI...devia ter levado o Ferreirinha pra casa!!
ResponderExcluirCecilia, me diz que esta foto é montagem. Pois assim eu não vou sentir inveja, kkk Nossa, Ferreira Gullar é tudo que existe em poesia. Adoro este poeta!!!Sem palavras.
ResponderExcluirBju
Nossa, e pensar que a única foto que tenho com um escritor...é com uma gringa que escreve YA! HAHAHA! Lindíssima a foto! Uma vez li um artigo muito interessante sobre o Ferreira Gullar e seus dois filhos com esquizofrenia. Passei a admirá-lo mais :)
ResponderExcluirE a Sala São Paulo é mesmo uma coisa de louco em um lugar tao nojento de se ver. Tive a oportunidade de ir no começo do ano, para assistir a uma das bandas de rock brasileiras que mais gosto tocar com a banda sinfônica de são paulo. Lindo demais MESMO esse lugar!
GRANDE BEIJO!
PS: tinha lido o que ele tinha falado no prêmio, sobre poesia...acho muito verdadeiro!