quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Uma biblioteca infantil multilíngue

Em uma época dominada pela internet, com seu amplo campo de acesso e inúmeros sites de busca que permitem vislumbrar o mundo em tão pouco tempo sem que os internautas, sobretudo crianças e adolescentes, saiam do conforto de seus lares, é de se admirar e aplaudir a criação de uma biblioteca – física – voltada para o público infanto-juvenil: a Biblioteca Infantil Multilíngue do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
 


Primeira no gênero da América Latina, ou seja, com livros em diversas línguas para crianças e jovens de até 19 anos, a biblioteca foi inaugurada em agosto deste ano, ao lado da Biblioteca Central do Belas Artes. Trata-se de um espaço planejado para oferecer histórias e linguagem adequadas a cada idade, de forma que a leitura se torne uma atividade prazerosa.
A ideia da criação da biblioteca partiu da jornalista Duda Porto de Souza, uma leitora assídua desde criança. Em 2009 ela começou a angariar doações, como livros, DVDs, revistas, gibis, itens de informática e brinquedos para formar o espaço. A Belas Artes soube da iniciativa e apoiou a proposta, investindo na criação da estrutura para tornar a biblioteca em algo público e acessível.
 
O espaço conta com um acervo de 11 mil exemplares, que vieram em parte da estante de Duda e da colaboração de amigos. Outra parte foi doada por editoras, escritores e interessados em contribuir.  Dessa forma, a biblioteca conta com um acervo infantil público e multimídia, com livros, DVDs, revistas, gibis e informática em diversos idiomas como português, espanhol, japonês, inglês, italiano, francês e alemão.
 
Do acerco destacam-se livros, como o que foi escrito por Barack Obama, Of thee I sing: a letter to my daughters, inspirado em suas filhas; a edição ilustrada do clássico O pequeno príncipe,com aquarelas do autor; um livro escrito em japonês, com introdução à arte de Van Gogh; publicações em braile, como o livro Abraço de urso, entre outros.
A Biblioteca Infantil Multilíngue funciona na Unidade I da instituição, localizada à rua Álvaro Alvim, 90, na Vila Mariana. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h e aos sábados das 9h às 16h.
 
O local é aberto ao público em geral e pode ser frequentado também por adultos, estudiosos e profissionais com a finalidade de pesquisa. Vale a pena conhecer e circular por entre prateleiras, pufes e móbiles, descobrir tesouros e se deleitar com as leituras.
Para os interessados em fazer doações, os materiais podem ser levados nos horários de funcionamento da biblioteca. São aceitas obras em bom estado de conservação, em todos os idiomas e somente das áreas de literatura, artes e gibis voltados para o público infanto-juvenil. Em caso de grande quantidade, a biblioteca faz a retirada no local.
 
Mais informações, acesse http://www.bibliotecainfantil.com.br/

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O Edifício - e os meus edifícios

Quando eu era criança adorava passear no centro de São Paulo com meus pais e irmã, fosse para perambular pela feira hippie da Praça da República, fosse para assistir a uma das muitas matinês nos cinemas da capital, ou quem sabe ainda para “vasculhar” os magazines da cidade. E, sempre que possível, passávamos pelo Mappin, tradicional loja de departamentos que comercializava móveis, eletrodomésticos, roupas, discos, produtos de higiene e beleza, enfim, uma infinidade de materiais para o dia a dia e o deleite dos consumidores.
 
A loja atuou por 86 anos em São Paulo e foi uma das pioneiras no comércio varejista. Teve falência decretada em 1999, quando suas atividades foram encerradas. O prédio foi retomado para abrigar o Extra Mappin, mas logo abortado e, em seguida, foi adquirido pelo grupo das Casas Bahia. O tradicional edifício ainda se encontra na Praça Ramos de Azevedo, esquina com a Cel. Xavier de Toledo, bem no coração comercial de São Paulo, mas não tem mais nada que lembre o charme e a imponência daquele magazine que fez parte da história da cidade.
A lembrança do Mappin e de outro edifício presente na minha infância e adolescência – o da Congregação Mariana, no bairro do Pari, que hoje nem mais vestígios têm do prédio, uma vez que este foi demolido para abrigar o campus da Universidade São Francisco – me pegou de cheio ao deparar com a HQ O Edifício, de Will Eisner, um dos nomes mais importantes dos quadrinhos no mundo.
Mestre na arte de desenhar com leveza e sentimento, e de contar histórias do cotidiano urbano, com realismo marcante, Eisner escreveu e desenhou O Edifício em 1987 como uma metáfora da vida, com suas histórias, sua importância e seu declínio até a extinção. Esta constatação já aparece na página de abertura da HQ, com o relato do próprio Eisner:
À medida que fui envelhecendo e acumulando recordações, passei a me sensibilizar mais e mais com o desaparecimento de pessoas e referências urbanas. Para mim, eram especialmente perturbadoras as inexplicáveis demolições de prédios. Eu sentia como se, de alguma forma, eles tivessem alma.
Agora, estou certo de que essas estruturas marcadas por risos e manchadas de lágrimas são mais do que edifícios inertes. É impossível pensar que, ao fazerem parte da vida, não tenham absorvido as radiações provenientes da interação humana.
Eu me pergunto sobre o que resta depois que um prédio é demolido.
O enredo divide-se em quatro personagens, cujas histórias transitam em torno de um edifício que, derrubado, se transforma em outro, mas cujas estruturas guardam as marcas de outras épocas. Esses personagens, que nos são apresentados logo no início como fantasmas diante do novo prédio, tiveram suas vidas e trajetórias pautadas pelo edifício e sucumbiram com ele, de forma a estabelecer uma ligação forte que as acompanhará até o final, até o ressurgimento do novo prédio e, com ele, suas redenções.
A primeira, e mais tocante história, é sobre Monroe Mensh, um cidadão novayorquino, vendedor em uma loja de sapatos, que vive sozinho, sem se envolver com nada e ninguém. Até que sua vida é transformada com a morte de um garoto em um assalto em frente ao edifício, que poderia ter salvado. Dessa forma, ele abandona o emprego e busca se redimir trabalhando em um órgão de amparo infantil estabelecido no próprio prédio, tentando assim ajudar toda e qualquer criança que necessite de auxílio.
Em seguida é apresentada a história de Gilda Green, uma bela mulher que, quando jovem era bastante assediada, mas acabou se apaixonando por um poeta, que não tinha onde cair morto. Depois de formada e, cansada dessa vida, ela se casa com um cirurgião-dentista e passa a levar uma vida confortável, mas sem deixar de manter a antiga paixão. Assim, eles continuam se encontrando, todas as semanas, em frente ao edifício.
O outro personagem é Antonio Tonatti, um violinista que, por ser de família pobre, não teve muita oportunidade de expandir o seu talento. Ele toca esplendidamente, mas precisa ter uma ocupação para sobreviver, passando a tocar nas horas vagas, em frente ao edifício.
Por fim aparece P. J. Hammond, um milionário, cujo pai foi proprietário do edifício, mas acabou por vendê-lo no decorrer da vida, aumentando suas posses e deixando a presidência da empresa ao filho. Obcecado pelo local que marcou sua infância, Hammond faz de tudo para reaver o prédio, nem que para isso tenha de usar métodos nada ortodoxos ou até mesmo perder sua fortuna.
É impossível não se emocionar ao final da leitura, ainda mais ao retomar as histórias e atentar para os detalhes dos desenhos, cuja compreensão se torna maior. Sem dúvida uma bela e tocante HQ do cotidiano urbano, que nos faz pensar na vida, nas relações humanas e nas inúmeras histórias que uma cidade comporta.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A vida privada das árvores (*)

Depois que a escrita de Alejandro Zambra finalmente chegou ao Brasil, com o aclamado Bonsai, publicado pela Cosac Naify em 2012, a espera por outros livros do escritor chileno tornou-se proeminente. E, em menos de um ano, também pelo selo da Cosac Naify, A vida privada das árvores foi lançado com grande expectativa pelos leitores.
 
O que se observa nesta obra, a exemplo da anterior, é a mão certeira de Zambra em narrar uma história concisa, enxuta, sob medida e, ainda assim, abrangente. O escritor, mestre na arte da autoedição, releitura, poda e corte, faz de A vida privada das árvores uma narrativa em que presente, passado e futuro se fundem por meio da vivência, das lembranças e das projeções “imaginárias” do que está por vir.
O protagonista é Julián, batizado dessa forma por um erro no cartório, uma vez que seus pais queriam que seu nome fosse Júlio. Sua história é contada durante uma longa noite de espera, que se arrasta até o amanhecer, por meio de um texto ágil e dinâmico. A espera é por Verónica, sua esposa, que está fora na aula de pintura e, enquanto a aguarda, Julián, que é professor nos dias de semana e escritor aos domingos, entretém a enteada Daniela com histórias sobre “a vida privada das árvores”. Dentre estas, a conversa entre o álamo e o baobá sobre fotossíntese, esquilos ou numerosas vantagens de serem árvores e não pessoas ou animais, ou ainda pior, pedaços de cimento.
Como em Bonsai, Zambra adianta o final da trama, sem que isso estrague o prazer da leitura, pois o que importa é o desenrolar da história. E ela terminará com a chegada de Verónica – ou até Julián perceber que ela não voltará, pois, diferente das outras vezes, a espera é longa, e Verónica custa a chegar. Entre os cuidados com a pequena Daniela, Julián escreve e começa a relembrar momentos de sua vida, a primeira companheira, Karla, a separação e o encontro com a atual, tecendo comparações e prevendo uma possível desculpa pela demora de Verónica:

Verónica é uma mulher que não chega, Karla é uma mulher que não estava.
A mãe de Karla é uma mulher que foi embora e que voltou quando ninguém a esperava.
Karla é uma mulher que não estive.
Karla é uma mulher que esteve, mas não esteve. Saiu, foi procurar sua mãe, do mesmo modo que outros saem para caçar.
Saiu, foi comprar cigarros. Karla não esteve, não estava: saiu para comprar cigarros, foi procurar a mãe, foi à caça.
O pneu de Verónica furou. Ela sabe que não posso ir procurá-la. Não posso deixar a menina sozinha. Verónica vai trocar o pneu.
Verónica é uma mulher no meio da avenida trocando um pneu. Centenas de carros passam a cada minuto, mas ninguém se detém para ajudá-la. É isso que está acontecendo, pensa Julián, que resolve se apegar à imagem de Verónica perdida, trocando um pneu, sozinha, numa avenida distante.
A noite vai avançando e Julián se mostra imobilizado, aliás, como sempre esteve – e talvez estará - em sua vida, preferindo esperar e imaginar o que virá a seguir. Assim, avança em seu pensamento e vislumbra o futuro da enteada Daniela, um futuro em que ele não estará presente, nem Verónica, apenas o pai biológico da menina e um possível marido. Nesse futuro, sua presença é apenas marcada pelo livro que escreve, um livro – e aqui um paralelo com Bonsai – que escreve há tempos, trabalhando nele incessantemente, cortando aqui, arrumando lá, suprimindo trechos, relendo, fazendo podas até reduzi-lo a poucas páginas.

Dividido em duas partes, A vida privada das árvores é um livro prazeroso de se ler e traz uma história atual e envolvente, próprias de um romance de fôlego. Recomendo!

(*) Texto de minha autoria, publicado originalmente no Cubo 3 -  www.cubo3.com.br,.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Leituras de Saramago

Fisicamente, José Saramago não está mais entre nós, mas suas ideias, sonhos e criações podem ser partilhados por meio de seus escritos e das lembranças daqueles que com ele conviveram. Por isso, saber que haveria um encontro em que Pilar del Rio, viúva do escritor, participaria lendo trechos de suas obras, acompanhada de autores como os brasileiros Milton Hatoum e Andréa del Fuego, e o moçambicano Mia Couto, era pra deixar qualquer leitor mais do que empolgado.

 
E não era pra menos, afinal, além da presença de tão destacadas personalidades do mundo literário, os livros em questão – Memorial do convento e Levantado do chão, reeditados agora pela Companhia das Letras – são dois dos mais vigorosos romances de Saramago. Sem falar que para mim, que li o primeiro com sofreguidão e encantamento, e anseio imensamente pela leitura do segundo, o acontecimento era uma oportunidade única da qual não poderia deixar de participar.

Sabia que a empreitada não seria fácil para um evento literário desse porte, ainda mais gratuito, e o pior é que eu não conseguiria sair mais cedo do trabalho para garantir o ingresso. Ainda assim insisti e me arrisquei a ir no dia 13 de agosto último, comprovando, ao chegar, que as minhas suspeitas estavam certas, em razão da longa fila que se formava à frente e que chegava ao interior do Sesc Consolação, local do evento. Depois de o funcionário avisar que não havia mais ingressos, muitas pessoas desistiram, mas fã que é fã nunca desiste até o fim e permaneci na fila junto com outros leitores, vendo, tempo depois, a espera ser recompensada com o ingresso ao teatro. Nem acreditava.

Foi uma noite primorosa, de leituras inesquecíveis, em que vislumbrei Pilar del Rio no palco e, por extensão, a memória de Saramago. Milton Hatoum subiu depois para ler um trecho de Memorial do convento, seguido de Andréa del Fuego que leu também Levantado do chão. Mia Couto, que eu via pela primeira vez, completou as leituras destacando também um trecho da obra.

Memorial do convento foi o quarto livro que li de Saramago, um romance de ficção histórica que começa na idade Média e chega ao século 20. Tem início com a promessa do rei D. João V de construir um Convento em Mafra caso a rainha, Dna. Maria Ana, lhe dê um herdeiro. A graça é concedida e assim começa a construção do convento que se prolonga por todo o livro. Paralelo ao acontecimento, há a história de Baltazar Sete Sóis, que não tinha uma mão, e Blimunda Sete Luas, que consegue enxergar além das pessoas e coisas. Eles se conhecem e se apaixonam em um auto de fé da Inquisição, no qual a mãe de Blimunda está sendo julgada por prática de bruxaria. Ao lado deles há o padre Bartolomeu de Gusmão e sua obsessão em construir a passarola, uma engenhoca que voa graças às vontades reunidas. Para tanto, ele conta com a ajuda de Blimunda e Baltazar.
O romance é uma delícia e foi muito bem definido pelo autor como uma história de “Era uma vez...”

Era uma vez um Rei que fez a promessa
de levantar um convento em Mafra. 
Era uma vez a gente que construiu esse convento. 
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. 
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. 
Era uma vez.

Saindo de Mafra, o romance Levantado do chão percorre uma zona do Alentejo caracterizada pelo latifúndio desde o final do século XIX. Nele, Saramago narra a luta de um povo em meio às forças opressoras, como os latifundiários, a ordem e a Igreja.

O livro é considerado como um dos romances fundamentais do escritor, tendo recebido o Prêmio Cidade de Lisboa, em 1980, e o Prêmio Internacional Ennio Flaiano, em 1992.

Segundo Pilar del Rio, trata-se de “um romance que se aproxima de uma reportagem ao mostrar o destino conflituoso das pequenas gentes e das grandes fomes que assolaram a região alentejana, devido à resistência ao regime que antecedeu a Revolução dos Cravos”.

Dois momentos. Duas histórias. Duas obras fundamentais de José Saramago que agora contam com o selo da Companhia das Letras, editora que passa assim a reunir toda a obra do escritor.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Doenças literárias

Depois de um período sem escrever – estava de férias do trabalho e resolvi ficar um pouco afastada da internet também – volto às postagens do blog mais do que na hora. Ainda um pouco enferrujada e só para descontrair, enumero aqui as minhas doenças literárias, a exemplo de um post legal que vi – li – há algum tempo na internet.
 
 Vamos a elas:
 
1. Diabetes – Um livro muito doce: Marcelino Pedregulho, de Sempé.
A história da amizade entre Marcelino Pedregulho e Renê Rocha, nascida das diferenças, enternece e encanta, marcada ainda pelos delicados traços de Sempé. É muito doce – e linda.
 
2. Catapora – Um livro que você leu e não lerá de novo: As Valkírias, de Paulo Coelho.
O primeiro livro que li de Paulo Coelho foi O Alquimista e confesso que gostei, na época. Em seguida escolhi para devorar As Valkírias, mas a experiência não caiu muito bem. Achei o livro estranho, confuso, indigesto. E me fez mal. Xô!
 
3. Ciclo Menstrual – Livro que você relê constantemente: Coração de Vidro, de José Mauro de Vasconcelos.
Embora tenha livros que adoraria retomar, várias vezes, não faço muito isso hoje em dia. A lista que tenho de livros a ler é grande, então dou prioridade aos que ainda não li. Mas este foi um livro que li e reli muitas vezes, e há um bom tempo. A história da fazenda e seus animais que nem sempre são valorizados pelo homem tocava o meu coração. Chorava todas as vezes que lia. Hoje, não sei se conseguiria ler novamente, pois embora lindo é muito triste.
 
4. Gripe – Um livro que se espalhou como vírus: Harry Potter, de J. K. Rolling.
E aqui falo da saga do bruxinho e seu mundo mágico, que impulsionou ainda mais as minhas leituras. Li com avidez, com encantamento, com emoção, sem parar, de uma tacada só. Amo demais!
 
5. Asmas – Um livro que tirou seu fôlego: Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.
Saramago sabe das coisas. O livro que fala sobre uma estranha cegueira, a branca, que acomete uma população, é um dos melhores livros que li, me hipnotizou do início ao fim. Foi uma leitura bastante prazerosa, da qual não via a hora de terminar, mas, ao mesmo tempo não queria sair. Aliás, quando acabei de ler, foi difícil emplacar outro livro.
 
6. Insônia – Livro que tirou o sono: O Homem Lento, de J. M. Coetzee.
Este livro, que conta a história de Paul Rayment, um fotógrafo aposentado, de 60 anos, que sofre um acidente de bicicleta e perde a perna, foi uma das mais belas surpresas literárias de 2012. O livro se impregnou de tal forma na minha vida que pensava nele dia e noite e também me deixou de mãos atadas para começar outra leitura.
 
7. Amnésia – Um livro que você não se lembra muito bem: Para sentir e esquecer, de Taylor Caldwell.
Parece até proposital, mas como o próprio título do livro diz esta foi uma leitura que senti e esqueci, por mais que me esforce para lembrar. Faz um bom tempo que li este livro e, sinceramente, não sei do que se trata, mas recordo que gostei muito na época.
 
8. Má nutrição – Um livro que faltou conteúdo para reflexão: As Valkírias, de Paulo Coelho.
É difícil um livro não suscitar reflexões, por mínimas que sejam, mas este, sinceramente, acho que não me acrescentou nada, pelas mesmas razões apresentadas no item “Catapora”.
 
9. Doenças de Viagem – Livro que leva para outra época / Lugar / Mundo: O Hobbit, de J.R.R. Tolkien.
A aventura de Bilbo Bolseiro foi minha primeira incursão pelo mundo de Tolkien e me alcançou em cheio. A história transportou-me para um mundo de fantasia do qual nem pensava existir e me ajudou, num momento crítico da vida, a sonhar com um futuro melhor.
 
Bom, talvez existam outras doenças, mas por ora vou ficar nessas. Mais para frente faço uma nova postagem, dessa vez falando sobre os meus “Pecados Literários”. Até lá!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pós-Flip - relato pessoal

 
Dizem que o melhor da festa é esperar por ela. Pode ser..., afinal, a ansiedade, os preparativos, a expectativa, enfim, acabam dando um colorido todo especial ao acontecimento que, muitas vezes, não percebemos quando este se realiza de fato. No entanto, em se tratando da Flip - Festa Literária Internacional de Paraty essa máxima não se aplica, pelo menos não totalmente, já que a espera é boa, mas os festejos em si são bons, muito bons, imensamente bons. Isso porque cada atividade ou acontecimento em si é sempre muito intenso, muito vívido, muito presente.

A edição que se encerrou, em 7 de julho, e que homenageou Graciliano Ramos, vai deixar muitas saudades e um saldo bastante positivo na minha vida literária e pessoal, apesar das três desistências de escritores que gostaria de ter conhecido: o francês Michel Houellebecq, o norueguês Karl Ove Knausgaed, e o egípcio Tamim Al-Barghouti.
 
Seja como for, na Flip 2013 fiz novas e boas amizades, vi escritores que não conhecia, assisti belos bate-papos da programação paralela e participei de mesas bacanas, com destaque para "O prazer do texto", com a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh e o brasileiro Francisco Bosco (ela me encantou com sua simpatia, seu português recém-aprendido e a obra de Vladimir Nabokov, e ele pelas belas colocações e o conhecimento sobre Roland Barthes).

Mas o que ficou para mim dessa Flip - e este é um relato bastante pessoal, não um resumo do que aconteceu na festa - foi a boa safra de escritores brasileiros, da qual já ouvira falar, mas que, por um desses desencontros da vida que a gente não sabe explicar, não tinha lido nenhuma obra e nem conhecia pessoalmente. Paulo Scott é um exemplo, embora seu livro Habitante irreal figure na minha lista de livros a ler desde o ano passado.
 
Outro destaque foi o pernambucano radicado nos Estados Unidos, José Luiz Passos, cujo sotaque nordestino nos debates da mesa que participou ao lado de Scott, Formas da derrota, foi um bálsamo para os meus ouvidos. Seu livro Sonâmbulo amador mistura memória, relações sociais e razão.
 
Além de Passos vale ainda citar Daniel Galera, paulista de nascimento, portoalegrense de coração. Festejado autor da nova geração, Galera começou divulgando seu trabalho nos primeiros lampejos da internet e foi, pouco a pouco, ganhando espaço e tornando-se conhecido. É difícil saber por qual de seus livros começar (foram publicados seis - quatro romances, um de contos e uma HQ), já que todos despertam de uma forma ou de outra um interesse especial. Mas estou particularmente inclinada para Cordilheira, quem sabe...
 
E, por fim, ressalto mais uma vez Francisco Bosco, filho do cantor e compositor João Bosco, carioca da gema, e como ele mesmo se define "que não gosta de praia, mas gosta de futebol". Escritor, letrista, poeta e filósofo, Bosco foi, para mim, uma das melhores surpresas da Flip dessa nova geração de escritores, Seu "Alta ajuda", que reúne 35 ensaios publicados nos últimos anos no jornal O Globo e nas revistas Trip e Cult, chegou até mim inesperadamente, mas muito bem-vindo.

Vale citar ainda que a Flip trouxe à baila os debates sobre as manifestações pelo Brasil,  e que ela própria teve sua manifestação popular pelas ruas da cidade, cujo ponto alto foi a tomada e o bloqueio, por alguns minutos, da ponte que liga o centro histórico das tendas da programação principal.

 
A festa terminou mas ela irá me acompanhar por um bom tempo ainda, por meio das muitas leituras que farei dos autores presentes. O que percebo é que, depois de participar de seis edições, longe de me cansar, sinto que o fôlego para as próximas Flips ainda é imenso e ansioso. Ainda bem e que venha a próxima.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Flip 2013 - minha 6ª Festa



É difícil visitar Paraty e não querer voltar à cidade outra vez. Afinal, os encantos do lugar, com seu centro histórico mágico e suas praias paradisíacas são motivos mais do que suficientes para que o visitante/turista sonhe com outra estadia na cidade. E se for no período da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, então, a pessoa se torna cativa do local. Pois é, estou indo mais uma vez para a cidade. E para participar da festa, que já se tornou roteiro tradicional das minhas férias, embora não esteja sozinha nesta empreitada.
 
Ángel Gurría-Quintana, jornalista de literatura em Cambridge, colaborador assíduo do jornal The Financial Times, por exemplo, esteve presente em todas as edições da Flip, desde 2004, e a partir de 2005 tem participado como mediador das mesas principais. Ele contou, no blog da Flip, em abril de 2012 (veja aqui), que a festa mudou seu calendário. Primeiro chegou para fazer a cobertura do evento e entrevistar os organizadores, mas acabou entrando no clima literário do lugar e, quando deu por si, já estava envolvido o suficiente para voltar – várias vezes.
 
“Não é fácil explicar para qualquer um que nunca tenha ido para a Festa porque este evento nāo tem comparaçāo com qualquer outro existente até entāo. O efeito intoxicante da FLIP nāo é fácil de descrever – só a localizaçāo já é de tirar o fôlego, estar em um cenário paradisíaco – a bahia, a Mata Atlântica e a vibrante cidade colonial”, justifica o jornalista no post.
 
De fato, é tudo isso e muito mais. Só quem foi sabe o que estou falando. Claro, nem todas as pessoas retornam, por um motivo ou outro, mas com certeza sentem esse fascínio que a festa proporciona. Da minha parte, todos os sacrifícios são válidos para estar lá, seja somente um fim de semana, como foi em 2011, só para ver Joe Sacco, seja em parte da festa, como foi em 2012 quando eu e minha companheira de Flip, a Gilmara Santos, tivemos de viajar durante a noite, chegando a Paraty de madrugada e tendo de esperar na rodoviária o dia amanhecer para ir à pousada.
 
Este ano consegui tirar as férias do trabalho no início de julho, o que já garante participar da festa inteira, que acontece de 3 a 7 de julho, e tem por homenageado Graciliano Ramos, um dos meus escritores preferidos.
 
Há muitas expectativas, sobretudo para ver autores que até então não conhecia, mas que já sinto certa proximidade, como o escritor irlandês John Banville, vencedor em 2005 do Man Booker Prizer, com o romance O mar, que estou lendo – e amando.

 
Além de Banville, a expectativa é também para a americana Lydia Davis, cujo livro Tipos de perturbação, também está na minha lista. Vale ainda destacar o norueguês Karl Ove Knausgård, o bósnio Aleksandar Hemon, o egípcio Tamim Al-Barghouti, o francês Laurent Binet e a francesa Lila Azam Zanganeh, filha de pais iranianos e estudiosa da obra de Nabokov. E, claro, os brasileiros Paulo Scott, Daniel Galera, Ruy Castro e Milton Hatoum, que fará a conferência de abertura sob o tema : Graciliano Ramos: aspereza do mundo e concisão da linguagem.
 
O show de abertura será com Luis Perequê e Gilberto Gil, que também participará de mesa literária, assim como a cantora Maria Bethânia, que estará na mesa sobre Fernando Pessoa. Vale lembrar também a mesa com o cineasta Nelson Pereira dos Santos que, ao lado da cantora Miúcha, falará sobre sua obra e as adaptações para o cinema dos livros de Graciliano Ramos: Vidas Secas e Memórias do Cárcere.
 
Paralela à programação principal, outras atividades, como a Flipinha, com atrações voltadas para as crianças, a Flipzona, para os adolescentes, a FlipMais, a Off Flip e eventos dos parceiros Flip, completam a festa. No mais é andar pelas ruas do centro histórico e esbarrar, vez por outra, com um dos escritores. Não tem coisa melhor.
 
É Paraty respirando cultura e literatura. Por todos os poros. Sem dúvida, imperdível!