quinta-feira, 30 de junho de 2011

As surpresas de uma noite de autógrafos

A era digital vem revolucionando o dia a dia das pessoas, facilitando trabalhos e tornando acessível uma série de informações. Era natural que chegasse também ao mundo da literatura, com o surgimento do livro digital e sua disseminação entre os leitores, sobretudo os mais jovens.

Fã incondicional do livro impresso, não descarto a possibilidade de ler em tablets, quem sabe..., mas quando penso que não comprar livro impresso significaria furtar-me daquele encontro agradável entre o autor e o leitor que acontece sempre nos lançamentos e eventos literários, então me refreio. Já pensou deixar de participar daquela euforia, misturada à paciência, de entrar numa fila para conseguir uma dedicatória do seu autor favorito na obra por ele escrita, e de conhecer outros leitores? Acho que em tablets isso é algo inconcebível, não consigo imaginar uma solução, mas com certeza haverá uma saída. Afinal, há espaço para os dois formatos.

Foi exatamente nisso que pensei quando, na última terça-feira fui ao lançamento do livro Uma Duas, da jornalista e escritora Eliane Brum. Conhecida por escrever sobre fatos e personagens da vida real, com precisão, intensidade e muita sensibilidade, Eliane faz sua primeira incursão pelo mundo ficcional, e a julgar pela crítica e impressões de quem já leu ou está lendo, o romance tem tudo para conquistar o leitor.

Uma Duas narra a relação entre uma mãe e uma filha, a beleza e a aridez desse convívio. Desse confronto, as duas percebem aquilo que cada uma tem da outra. É uma reflexão sobre relacionamentos e família.

Publicado pela LeYa, editora portuguesa criada em 2008 e que vem alcançando o mercado brasileiro, o livro de Eliane foi impresso em belíssimo papel, com diagramação diferenciada, com destaque para o texto com letras na cor vermelha, com alguns capítulos em tons mais claros, e outros mais fortes. Creio ter um sentido essa diferenciação, mas isso só lendo para descobrir, o que farei assim que terminar A elegância do ouriço.

Autora de A vida que ninguém e O olho da rua, ambos narrativas da vida real, baseados em reportagens realizadas e que li com voracidade e emoção, Eliane é ganhadora dos prêmios Esso, Vladimir Herzog e Rei da Espanha. Em 2007 recebeu o Jabuti por A vida que ninguém e concorreu como finalista ao reconhecimento em 2009 por O olho da rua.

Colunista do site da Revista Época e cronista do site Vida Breve, Eliane tem ainda em seu currículo Coluna Prestes – O avesso da lenda, livro-reportagem que recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura como autora revelação. E também os documentários Uma vida Severina e o recém-lançado road movie Gretchen Filme Estrada, ambos como codiretora. (Será que deixei de mencionar algum?)

A noite de lançamento de Uma Duas em São Paulo aconteceu na Livraria Cultura, que fica no Conjunto Nacional da Avenida Paulista, centro financeiro e cultural da cidade. Em meio a prateleiras repletas de livros e ao lado do café existente no interior da bela e grandiosa loja, o espaço reservado para Eliane autografar, conversar e se deixar fotografar com seus leitores propiciava um charme a mais àquela atmosfera literária.

Eu estava na fila, aguardando a minha vez chegar. À minha frente havia um grupo de jovens que ostentavam Uma Duas e mais dois livros de Eliane para ela autografar; atrás de mim, uma mulher parecia compenetrada na leitura do romance, que já iniciava ali mesmo. Nessas horas, costumo ficar na minha, uma por conta da minha timidez, outra porque não gosto de incomodar ninguém, mas não sei por que tive o ímpeto de me dirigir a essa mulher e não resistindo mais observei:

– Já começou a ler...

– É, enquanto espero na fila, estou aproveitando - ela respondeu e continuou:

– É a segunda vez que pego a fila. Ela já autografou o meu livro, somos amigas e temos um amigo em comum em Portugal. Assim resolvi comprar outro exemplar e enviar a ele, por isso estou na fila novamente. Você também é amiga dela?

Não. Apenas admiradora - respondi.

Depois disso a conversa prosseguiu e fiquei sabendo que Odele conheceu Eliane por causa da história da sua filha, Flávia, uma jovem que vive em coma vigil há 13 anos, desde que sofreu, aos 10 anos de idade, um acidente na piscina do prédio onde morava. Ao nadar, a menina teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção, ficando presa no ralo da piscina.

– Lembro-me desse caso, exatamente por causa da sucção – disse.

– É saiu nos jornais na época. E em 2007 eu fiz um blog dedicado à minha filha e sua luta pela vida. A Eliane viu, entrou em contato comigo e fez uma matéria linda, que foi publicada na Revista Época, em novembro de 2009 ( http://virou.gr/kBE6af ). Depois, ficamos amigas.

Continuamos a falar da filha, do acidente, do blog ( http://www.flaviavivendoemcoma.blogspot.com/  ) e do trabalho de Eliane, até chegar a nossa vez no autógrafo. Quando já estávamos perto, um rapaz que estava à minha frente pediu para eu fotografá-lo ao lado de Eliane. Disse que sim, bastava me entregar a câmera e explicar onde apertar. Odele, por sua vez, que também estava com sua máquina em mãos, me mostrou a foto que tirara com Eliane, e como eu estava sem máquina, ela se ofereceu para fazer uma foto minha com a escritora, que depois me enviaria por e-mail.

E assim foi. Fiz a foto do rapaz e depois Odele fez a minha com Eliane. Na dedicatória, ela escreveu no livro: “Minha versão do abismo”. Cumprimentei-a, despedi-me de Odele e sai de lá radiante, com Uma Duas aconchegado em meu peito. Foi uma noite agradável, uma noite de lançamento, uma noite em que estive perto da autora, ganhei um autógrafo no livro, conheci outros leitores e ainda comecei uma nova amizade. 

10 comentários:

  1. Parabens!!!

    Sempre surpreendendo com seus posts Cecilia...

    Acho que de admiradora, vc deveria passar para escritora logo logo

    sucesso
    abs

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  2. Ciça, após ler o teu post fui ver o blog da Flávia, que mexeu muito comigo. Nessas horas a gente vê (reconhece?) que nossos problemas não são tão grandes assim. Beijão

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  3. Eu também me lembro desse caso da menina da piscina. Amo nadar, amo piscinas, mas confesso que fiquei bastante chocada e tenho sempre um pé atrás com isso. Infelizmente é preciso que tragédias aconteçam para que providências sejam tomadas, e muitas vezes elas não são tomadas nem assim. Uma grande tristeza.

    E às vezes conhecemos as pessoas em situações que jamais esperávamos, né? Essa interação leitor-autor pode acontecer com os tablets sim, num futuro, mas seria mais limitada. Imagino um dia de lançamento e as pessoas fazendo download na hora,e só depois daquele dia ou de outros dias ele poderia ser disponibilizado para downloads nas grandes lojas. No dia do lançamento (e do download) imagino os "fãs" ganhando algum marcador ou livreto autografado enquanto esperam o download. Claro que é tudo um "sonho", os livros de papel estão LONGE de sumirem ou caírem de moda, mas às vezes me pego pensando nessas coisas ;) Acho que a gente vai conseguir dar um jeito nessa "aproximação", que muitas vezes é bem prazerosa.

    Um grande beijo e ótima leitura!!

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  4. Cecilia,

    Foi um prazer conhecê-la, tirar sua foto com Eliane e enviá-la pra você por e-mail.

    E conhecendo seu blog, vi que você também escreve muito bem. Parabéns.

    Muito obrigada por divulgar o blog de minha filha Flavia onde além de falar de (in)justiça faço um alerta para o perigo dos ralos de piscinas. Conscientizar as pessoas sobre esse tipo de acidente poderá evitar novas tragédias como essa que aoonteceu com minha filha.

    Um abraço.

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  5. Minha querida Ciça,
    Com os Tablets, não seria assim...
    Você, não ficaria na fila para autografar o livro, e ,não conheceria uma amizade nova e nem tão pouco uma historia tão linda como esta...
    Espero que a tecnologia, não nos torne robôs.
    Pois esta troca é que nos faz conhecer novas amizades e nos traz a alegria de vivermos de corpo e alma.
    Beijos
    Maria de Fatima Ippoliti

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  6. Você ficou muito bem na foto,e no texto também.
    Cecilia, é maravilhoso sentir o cheirinho dos livros, folhear suas páginas,ter o prazer de ir as livrarias,mas confesso a você que ainda não entrei na era tablete porque o mercado ainda não se ajustou. Mas é questão de tempo. Tudo passa, não é e será que o papel passará? bem acho que vai demorar muito e ainda iremos conviver muito tempo com o livro de papel, pelo menos, acredito que os que amam este estilo não vão deixá-lo morrer.
    Estou esperando pela "ouriço"!!!
    Beijos

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  7. Visitei o site da Flávia. Infelizmente a gente te que conviver com casos assim.
    Beijos

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  8. Tenho de começar por dizer que partilho totalmente das tuas reflexões sobre o livro impresso e o formato digital.Concordo que pode haver lugar para os dois. Não sou fundamentalista de modo a rejeitar a inovação e o progresso. No entanto, ainda prefiro o cheirinho, o toque, o resmalhar do papel. É que, assim, fica mais próximo o convívio com o autor e com os outros leitores de que tão bem falas.
    Quero também dizer que esse tal amigo português da Odele e da Eliane, sou eu mesmo. E estou, desde já, aguardando com avidez esse primeiro livro de ficção da Elane Brum, com um autógrafo especial, que a Odele me vai enviar. É que, desde que a descobri, pela mão da Odele, a minha admiração pela sua forma de escrever, pela sua sensibilidade, pela sua personalidade, não tem cessado de aumentar. A Eliane conhece o segredo das palavras e sabe tocar no fundo de nós, desencadeando emoções que nos fazem crescer.
    Ainda por cima, esta jornalista única, esta escritora invulgar, distingue-me com a sua amizade que tanto me honra. E tudo isto através da Flavia, menina a quem um absurdo infortúnio roubou um sorriso cativante e gaiato, roubou sonhos e projectos.
    Conhecendo a história da Flavia, conheci a Odele, de quem captei a extraordinária coragem, abnegação e dimensão humana que me levaram a querer estar mais perto. E, desse modo,e sabendo que a Flavia tem a percepção de estímulos sonoros, fui, ao longo dos tempos, gravando umas singelas mensagens em que converso com ela, lhe envio sons do meu quotidiano, músicas que selecciono para ela.Depois, remeto esses ficheiros por correio electrónico. A Eliane, nessa reportagem de que falas neste post, refere-se a essas faixas, em termos que me emocionaram. Até porque não estava à espera que esses tão despretenciosos actos de afecto pudessem ser distinguidos desse modo.
    Agora,eis que, conduzido por estas amigas, venho conhecer um blog de alguém que já entendi partilhar valores comuns aos meus e, por isso mesmo, me vai trazer aqui mais vezes.

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