sexta-feira, 17 de junho de 2011

Passando a vida a limpo

A semana passada deparei-me com uma notícia na internet que me emocionou muito. Tratava-se da “lista de desejos” de uma menina inglesa com câncer terminal, que colocou em seu blog 17 coisas que pretendia fazer antes de morrer, atraindo assim a atenção de mais de 230 mil visitantes.

Com 15 anos, Alice Pyne tem linfoma há quatro anos e, segundo a reportagem, “seus médicos consideraram que não há mais tratamentos possíveis” para ela. Assim, a menina resolveu “documentar o tempo precioso com sua família e amigos, fazendo coisas que quer”. E ainda listou 17 desejos, embora saiba que muitos deles não poderão se concretizar, como nadar com tubarões, viajar ao Quênia e ser treinadora de golfinhos. Mas decidiu registrá-los.

No blog, Alice também alerta para a importância das pessoas tornarem-se doadoras de medula para ajudar pacientes que precisam de transplantes.

A história de Alice lembrou-me de outra, que conheci quando li Claro como o Dia, uma espécie de autobiografia, talvez mais um ensaio pessoal ou livro de memórias, de Eugene O´Kelly, um executivo de sucesso que descobre, em 2005, ter apenas três meses de vida por conta de três tumores no cérebro, já em estados avançados. Ele tinha então 53 anos, e estava no auge do sucesso.

Três anos antes, O´Kelly se tornou presidente mundial da KPMG, uma das maiores empresas de contabilidade dos EUA, chegando a comandar 20 mil funcionários. Depois do impacto inicial da notícia, ele usou seus talentos e conhecimentos como executivo para fazer da morte um acontecimento positivo.

Assim, começou a programar detalhadamente a sua partida, com a produção de um livro de memórias, em inglês Chasing Daylight, que pode ser traduzido para o português como “Em busca do amanhecer”, em parceria com Corinne, sua esposa, e o escritor Andrew Postman.

Quando o livro foi lançado no Brasil, em 2006, com o título de Claro como o Dia – Como a certeza da morte mudou a minha vida, eu logo me interessei em ler. E não me arrependi. Longe de ser dramático ou piegas, o livro mostra como a morte pode ser uma experiência positiva para as pessoas.

Em seus últimos três meses, O´Kelly faz uma revisão da sua vida, balanceando os erros e os acertos e lembra que ao longo da caminhada construiu inúmeros relacionamentos, e que estes deveriam ser encerrados, assim como começaram. Dessa forma, ele elaborou uma lista com 1.000 nomes de pessoas que conheceu e com quem se relacionou para entrar em contato antes da sua partida. Como não seria possível estar presente em todos os encontros, alguns – mais distantes talvez em afetividade – receberam cartas ou telefonemas. Os mais próximos foram reservados para encontros ao vivo, procurando fazer destes algo bastante especial.

Fez caminhadas, passeios pelos parques e museus, frequentou restaurantes preferidos, priorizou o que era importante. Enquanto isso, O`Kelly se submetia ao tratamento com radioterapia, dispensando a quimio, para poder estar mais lúcido e disposto nesse período, embora isso tenha acelerado mais a morte. A despedida final, depois das filhas, foi ao lado da mulher Corinne.

O último capítulo do livro foi escrito por ela, que criou posteriormente um fundo para auxiliar pacientes com câncer.

Publicado no Brasil pela Nova Fronteira, o livro tem parte da sua renda destinada ao INCA – Instituto Nacional de Câncer.

Como já tinha lido essa história há um tempo, precisei resgatar as lembranças dela nestes últimos dias, e não pude deixar de me emocionar outra vez, lembrando também da menina Alice, razão deste post. Afinal, são histórias fortes, humanas, de pessoas comuns, e que fazem toda a diferença quando resolvem transformar suas vidas em algo profícuo para todos.

* Para ler a matéria sobre a menina Alice Pyne e conhecer sua lista de desejos acesse http://t.co/56MnuFv
O endereço do blog dela é http://alicepyne.blogspot.com/

2 comentários:

  1. melhor seria se pudéssemos viver a vida sem o medo de perdê-la. Parece que só valorizamos esses pequenos momentos quando estamos a um passo do fim, quando ele é certo, quando o médico faz as contas e lhe dá um prazo. Bom é a gente valorizá-la todos os dias, agradecendo sempre tudo o que tem.

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  2. Me emocionei muito ao tomar conhecimento da historia da garota- quando se teve um caso de leucemia na família as coisas se tornam mais doloridas.

    Vou anotar a sugestão de leitura.

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