terça-feira, 27 de setembro de 2011

O livro é para ser lido

Em Quadribol através dos séculos, de Kennilworthy Whisp (pseudônimo criado por J. K. Rowling), há um interessante alerta na primeira página do livro, logo abaixo da lista de nomes dos bruxos que já o pegaram emprestado da biblioteca da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, local onde se passa a história de Harry Potter:

Aviso: Se você remover folhas, rasgar, picar, vincar, dobrar, deformar, desfigurar, sujar, jogar, deixar cair ou de qualquer outra maneira danificar, maltratar ou demonstrar falta de respeito com este livro, sofrerá as piores consequências que eu puder lhe infligir.”
Assina Irma Pince, bibliotecária de Hogwarts.

A preocupação de Madame Pince parece justificável, constando até no prefácio do livro, assinado por Alvo Dumbledore, diretor da Escola de Hogwarts. Ele informa que, segundo a bibliotecária, o livro é “manuseado, babado e de um modo geral maltratado diariamente”. O diretor, contudo, acrescenta ser isto “um enorme elogio para qualquer livro.”

Achei graça na divergência de opiniões, muito mais do que no próprio texto do livro, que traz um retrospecto sobre os primórdios do famoso esporte dos bruxos, sua disseminação pelo mundo, suas regras e jogadores, além de um histórico sobre a evolução das vassouras voadoras. É um livro leve, divertido, sem compromisso, para fãs da saga. Mas que me fez pensar na relação que tenho com meus livros, ou seja, no modo como eu os trato. Não os maltrato, sem dúvida, mas não tenho esse cuidado extremo desejado por Madame Pince, é claro. E até os empresto, sem problemas, mesmo correndo o risco de recebê-los danificados, ou o que é pior, nem recebê-los de volta. Acho que os livros são feitos para serem lidos e manuseados, tantas vezes quanto forem necessárias, e se isto acabar por desconjuntá-los, acredito que sua missão, pelo menos, foi cumprida.

Por outro lado, há alguns meses, fiz uma arrumação no meu armário, onde os meus livros estão guardados, uma vez que ainda não tenho uma estante para acomodá-los decentemente. Na parte de baixo estão os livros que comprei nos últimos cinco anos e que se encontram em bom estado. Já na parte de cima, em meio a roupas e toalhas, dormem os mais antigos, que me acompanham desde o final da adolescência e início da vida universitária. Confesso que, muitos deles, encontram-se em estado lastimável, com a lombada comprometida, capa maltratada, folhas internas amassadas, amareladas, dobradas e rabiscadas, com anotações ou marca textos.

Com a intenção de mudar de casa e finalmente comprar uma estante para dar um destino conveniente aos meus livros, resolvi fazer uma seleção nas obras e doar alguns títulos à biblioteca pública ou trocar com quem tenha interesse. Separei então uma série, alguns até em bom estado, e os coloquei numa pequena caixa. Acontece que o tempo passou, e como ainda não sei quando vou mudar, não me desfiz deles. Conclusão: acabei retirando da caixa pelo menos quatros dos livros que tencionava doar – e justamente os que se apresentavam mais danificados. A afeição foi mais forte.

Olhei para eles e lembrei-me da época em que os adquiri, no tempo em que estão comigo, na aventura das constantes mudanças que fiz e, sinceramente, não pude me desfazer deles. Afinal, esses livros fazem parte da minha história, presenciaram minhas tristezas e alegrias, meus fracassos e minhas derrotas, coisas que não se apagam assim tão simplesmente, como num passe de mágica. Eles podem até apresentarem-se estropiados, mas estão dentro da minha história de vida e de leitura.

Por isso fiquei pensando nessa coisa de conservar os livros. Claro, é necessário, quem não gosta de um livrinho em bom estado, estalando de novo? Eu gosto, mas também gosto daqueles que estão marcados pelo tempo, que testemunharam as constantes mudanças pelas quais passei, guardando em sua aparência e em seu interior as marcas dos frequentes manuseios que fiz para mais uma aventura por entre suas páginas.

Todo respeito ao objeto livro, mas seu conteúdo é o que realmente importa. E se pudermos deixar registrado nas páginas impressas a marca das nossas leituras, tanto melhor. Afinal, elas são a nossa história.

3 comentários:

  1. Post muuuuuuuito legal!!!
    Eu acho que tudo que é muito extremista...irrita. Sempre tento cuidar dos meus livros, mas acaba sendo inevitável que meus preferidos sejam os mais deteriorados, já que os levo para todo o lugar e eles acabam se destruindo dentro da bolsa, etc. E amo livros com marca de tempo...acho que desde que ainda dê para manusear, páginas dobradas ou amassadas, bem como amareladas, dão apenas um charme e mostram exatamente a história que vivemos paralelamente à leitura da própria obra. Nunca vou me esquecer dos mais de 2 meses que passei lendo o meu livro preferido de todos os tempo: O Conde de Monte Cristo. Indo para a faculdade, morrendo de sono quando chegava em casa, mas louca para ler, esperando para ver os amigos...tanta coisa! E amo que ele tenha os sinais físicos de que eu aproveitei muito todo aquele tempo.

    E eu providenciei umas pequenas "estantes" na parede do meu quarto, e adivinha só: não cabem mais livros, haha,então estou, em partes, em uma situação semelhante à sua: sem ter onde guardar todos os livros. Quando tiver a minha casa, acho que terei que ter um quarto só para transformar em biblioteca :D

    Beeeeeeeeeijo!!

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  2. oi Cecilia, minha paixão por livros você já sabe, não é? mas você sabia que eu não cuido bem deles?
    eu risco, eu viro a ponta da página, eu coloco clips, eu o coloco dentro da bolsa, não tenho pena do pobrezinho enquanto eu o estou lendo. Ele sofre nas minhas mãos. Por isso só leio livros meus, nunca peço emprestado.
    No entanto os guardo com muito carinho,nates e depois de ler.
    Beijos

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  3. Oi, Cecilia
    Muito legal seu post...eu tb acho que livro nao eh sagrado, apesar de cuidar bem dos meus, nao hesito em grifa-los, dobrar um cantinho de pagina quando estou sem lapis, ou ate fazer alguma anotacao...eu tinha um livro bem especial, Perto do Coracao Selvagem, da Clarice Lispector, todo grifado, por mim e por minhas amigas que eu havia emprestado...mas sumiu, uma pena pois tinha muito da nossa adolescencia registrado la. Bjs

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