sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um luxo de bonequinha

Bonequinha de Luxo, o conto de Truman Capote que ganhou uma adaptação para o cinema (Breakfast at Tiffany's) em 1961, com Audrey Hepburn como protagonista, não constava da minha lista de leituras. Não que não me interessasse pela história, na verdade, não passava pela minha cabeça lê-lo e só o fiz agora, antes até de outras leituras mais urgentes, por puro acaso.

Quando conversava sobre livros com uma amiga no metrô, no caminho do trabalho para casa, acabamos, não sei nem porque, falando sobre o filme Bonequinha de Luxo. Quer dizer, ela me falava do filme, já que por uma dessas circunstâncias da vida que a gente não entende, eu não assisti. Ela, que adora gatos, comentou sobre o bichano existente na história e aquilo acendeu uma chama em mim, pois eu vinha pesquisando na internet livros de ficção, mas não de fantasia, em que há gatos na narrativa. E pensei que este poderia ser o livro que estava procurando para escrever um post sobre animais na literatura.

O post, eu ainda vou fazer, mas talvez deixe Bonequinha de Luxo fora da relação. Não porque achei a participação do gato inexpressiva, mas porque resolvi escrever um texto só sobre essa leitura e de como foi a experiência dela para mim. Ou seja: extremamente prazerosa.

Com um estilo gostoso de escrever, Truman Capote, que eu já conhecia do livro A Sangue Frio, um precursor do Jornalismo Literário, uma vez que alia reportagem com recursos literários, envolve o leitor com uma história simples, mas muito bem contada – e emocionante.

Holly Golightly é uma jovem que vivia em uma fazenda, casou aos 14 anos e um ano depois fugiu de casa para tentar a vida como atriz em Hollywood. Instalada em Nova York, em busca de um casamento com um milionário, torna-se garota de programa, mas com bastante estilo e personalidade. Ela simplesmente magnetiza os homens, exercendo sobre eles – com muita graça e disposição – um poder fascinante.

Em meio a sua vida agitada, ela conhece um escritor que mora no andar de cima do prédio, construindo com ele uma singela amizade que se estende até o final da história, cheia de reviravoltas. Quanto ao gato, ah sim, ele está lá na história e, embora não tenha nome, sendo chamado apenas de gato, ele tem uma participação significativa no conto. A passagem abaixo reflete bem a relação com Holly:

– Pobre nojentinho sem nome. É um pouco inconveniente não ter nome. Mas eu não tenho o direito de lhe dar um: terá de esperar até que pertença a alguém. Nós só nos juntamos um dia à margem do rio, não nos pertencemos: ele é independente e eu também sou. Não quero possuir coisa alguma até saiba que encontei o lugar onde eu e as coisas pertencemos. Ainda não tenho certeza de onde fica esse lugar. Mas sei como ele é.

Devo confessar que o livro me pegou já nas primeiras linhas, em uma identificação supreendente, quando o escritor amigo de Holly e que conta a história, fala sobre o prédio onde moraram, sobretudo o quarto que ocupava:

...Era apenas um quarto atulhado de móveis velhos, desses que se guardam no sótão, um sofá e umas poltronas gordas estufadas com aquele tipo de veludo vermelho e comichento que lembra dias quentes em um trem. As paredes eram de estuque, com a cor exata de tabaco mascado. Por outro lado, até no banehiro, havia gravuras de ruínas romanas esmaecidas pelo tempo. A única janela dava para a saída de incêndio. Mesmo assim, eu ficava satisfeito cada vez que sentia a chave do apartamento no meu bolso: com toda a sua melancolia, ainda assim era um lugar meu, o primeiro que eu tinha, meus livros estavam ali e potes cheios de lápis sem ponta, tudo o que achava que precisaria para me tornar o escritor que pretendia ser.

Outro ponto que me encantou foi o fato de hoje, dia 30 de setembro, ser o dia do nascimento de Truman Capote que, se estivesse vivo, completaria 87 anos. Aliás, no livro, há uma passagem que se refere ao fato, uma vez que o escritor-narrador também faz aniversário nesse dia. Mais: li esse trecho hoje, 30 de setembro. E, além de todas essas coincidências, outra: o livro, que foi escrito em 1961, comemora os seus 50 anos!

Fiquei maravilhada. Não mais do que chegar ao final do conto. As lágrimas insistiam em embaralhar minha vista, quase não me deixando ler, loucas para transbordarem, extravazando de vez toda a minha emoção.

Um comentário:

  1. que lindos esses trechos escolhidos ! eu nunca canso de assistir a Bonequinha de Luxo e ver a Audrey Hepburn é uma delícia para os olhos, faz bem...

    nossa, deu vontade de ler o conto!

    beijo!!

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