terça-feira, 2 de março de 2010

Ele fará falta

Parece brincadeira, mas o fato é que ficar sem internet é como se ver isolado do mundo, à margem dos acontecimentos, privado de contatos e, perdendo assim, o fio condutor da história. Pois é assim que estou me sentindo hoje, depois de três dias sem acessar a rede mundial de computadores. E o mais incrível disso tudo é que fiquei em casa, assistindo a TV e tudo o mais, noticiários, novelas, programas de auditório..., bom tá certo que algumas vezes coloquei alguns filmes em DVD para me distrair, mas vi os jornais da Record, Bandeirantes, Globo... e posso assegurar que em nenhum deles soube da morte do bibliófilo José Mindlin, em 28 de fevereiro, no domingo. Dá para acreditar?

Só hoje, ao ligar o computador, e ver entre os e-mails recebidos um que falava sobre a morte do bibliófilo. Imagine o susto e a surpresa que tive. Mas, mesmo já passados dois dias do acontecimento, eu não poderia deixar de registrar aqui esse fato, principalmente porque em um curso de Literatura que fiz no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, pude ver um depoimento, via vídeo, do bibliófilo, em que ele falava dos livros que marcaram a sua vida. Mas o que mais ficou desse depoimento foi uma frase que ele proferiu, que era mais ou menos assim:

– O importante é ler, seja lá o que for. A seletividade, vem com o tempo.

Com isso ele quis dizer que as pessoas deveriam ler o que quisessem, sem serem criticadas por isso, com o argumento de que é má literatura. O que vale é ter o gosto pela leitura. Com o tempo, elas passarão a ser mais seletivas, buscando qualidade literária naquilo que leem.

Ao longo de sua vida, José Mindlin reuniu a Biblioteca Brasiliana, considerada a mais importante coleção do gênero no Brasil, formada por um particular. O acervo – cerca de 40 mil volumes entre livros e manuscritos – foi doado em 2009 à Universidade de São Paulo (USP), mas alguns dos livros e documentos podem ser consultados na internet (http://www.brasiliana.usp.br/). São obras de literatura brasileira e portuguesa, manuscritos históricos e literários, periódicos, livros científicos e didáticos, enfim uma infinidade de textos memoráveis.

Entre as obras colecionadas estão raridades como a primeira edição de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e a primeira edição de “O Guarani”, de José de Alencar.
Filho de emigrantes judeus, Mindlin nasceu em São Paulo e começou a formar sua biblioteca aos 13 anos. Era advogado, jornalista e empresário e foi membro da Academia Brasileira de Letras.

Entre as obras que escreveu, destaco “Uma Vida Entre Livros”, um livro de memórias em que ele nos abre sua biblioteca, contando a história de sua formação, seu amor pelos livros e as aventuras que viveu por eles. Este livro, que há muito tempo desejo comprar, é uma verdadeira jóia, que vale a pena ter na biblioteca, para ser frequentemente apreciado, manuseado e lido.

José Mindlin estava internado há cerca de um mês no hospital Albert Einstein e sua morte foi causada por falência múltipla de órgãos. Ele tinha 95 anos. Uma vida verdadeiramente dedicada aos livros.

3 comentários:

  1. quando soube da notícia senti muito porque o admirava tanto...e lembrei de vc e sabia que não deixaria de nos brindar com um texto tão lindo sobre uma pessoa mais linda ainda!

    obrigada!

    beijos,saudades!!

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  2. ah! fotinho nova !! tá linda e é lá de paraty, terra linda...

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  3. Foi uma grande perda, mesmo... O bom é pensar que ele fez seu papel com maestria... Incentivar o hábito da leitura é uma ação com valor inestimável! As pessoas vão, mas o que elas fazem de bom, fica. =)

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