terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sobre um homem chamado Alfredo


Ele gostava de música clássica, seus livros favoritos eram sobre filosofia e religião, encarava o trabalho com seriedade, tinha por hobby o futebol – não como jogador (se bem que quando jovem chegou a jogar por lazer), mas como torcedor – e passava a maior parte do seu tempo livre com a família.

Sempre que lembro do meu pai essas imagens me vêem a cabeça, a de um homem culto, responsável, cumpridor dos seus deveres, brincalhão, às vezes bravo, mas extremamente amoroso. Ele se foi há exatamente 17 anos e ainda hoje sinto a sua falta, mas com a certeza de ter tido o privilégio de conviver ao seu lado por mais de 30 anos.

As recordações que mais tenho dele são da infância, das brincadeiras, dos passeios ao zoológico, ao circo, ao cinema, ao teatro, ao estádio de futebol... Sim, meu pai levava eu e minha irmã para assistir jogos, ainda mais se estes fossem do Palmeiras, seu time do coração. Com meu pai aprendi a ser palmeirense, a gostar de futebol, a acompanhar partidas, a assistir as transmissões de jogos pela televisão e a se divertir com os debates e as brigas dos comentaristas nos programas esportivos. Mais tarde, já adulta, lembro de nós dois acompanhando as corridas de Fórmula 1, nas manhãs de domingo, quando ainda estavam em evidência Emerson Fittipaldi e depois Nelson Piquet.

Também das manhãs de domingo, mas as da minha infância, recordo quando íamos – ele, minha mãe, minha irmã e eu – à missa das crianças na Paróquia de Santo Antonio do Pari, com direito a participar da distribuição de doces ao final da cerimônia. Dali seguíamos para casa, não sem antes parar na banca de jornal para conferir as últimas novidades, comprar os matutinos e algumas revistas infantis, como a Recreio, minha favorita, na época.

Meu pai era um colecionador nato. Tudo o que aparecia de novo no jornaleiro ele comprava. Foi assim que eu e minha irmã ganhamos a coleção dos clássicos infantis, com uma revistinha, acompanhada de um disquinho (vinil) que narrava a história de Mogli o menino lobo, Os três porquinhos, Pedro e o lobo, Branca de neve e A bela adormecida, entre outros. E ainda uma coleção de Ciências, com fascículos sobre os principais cientistas e descobridores, acompanhados de uma caixa repleta de materiais, como microscópio e equipamentos para experiências científicas. Além destes, uma outra coleção sobre Os Pensadores, aqueles magníficos filósofos que se embrenharam na tarefa de compreender e explicar o mundo em que vivemos.

Para acomodar todos esses livros e coleções, acrescidos mais à frente com a enciclopédia Barsa (toda família que se prezasse na década de 1970 tinha de ter uma, hoje com a Internet isso é impensável), tínhamos uma bela estante em nossa sala. Ela nos acompanhou durante muitos anos, mas, por circunstâncias das várias mudanças de casa, inclusive de cidades, tivemos de nos desfazer de boa parte dela, mesmo porque alguns livros começaram a ficar defasados.

Hoje, pouca coisa restou daquela nossa biblioteca. Eu cresci, estudei, me formei, comecei a atuar como jornalista. Comprei meus livros e construi uma nova biblioteca no meu guarda-roupa. Do meu pai guardei apenas dois livros de Os Pensadores e mais dois bem pessoais e bastante antigos: Pais de Sacerdotes e um outro sobre o estudo da língua grega. Destes eu não quis abrir mão, acho que eles sintetizam um pouco parte daquilo que ele foi e gostava. E essas coisas são difíceis de se desfazer, mesmo porque, no íntimo, eu não quero.

5 comentários:

  1. que lindo amiga...são lembranças maravilhosas que estarão contigo pra sempre e...obrigada por dividi-las conosco!e os livros sempre junto né? fazendo parte da vida!
    e quem sabe a gente não vá ver o Parmeiras jogando hein? eu nnca fui num estádio...
    beijos !!

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  2. Que bonito!! Quanta sensibilidade!
    Até eu que não conheci seu pai fiquei com saudade! rs

    bjs

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  3. Tem um selinho pra ti no meu cantinho! Vai lá conferir!

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  4. Cecília
    Adorei seu blog.Muito interessante. Lembrei da minha infância quando também ia na missa das 09 horas, e ganhava doces depois! E você sempre adorou uma banca de jornal, não é mesmo? A gente saia da escola passava na banca do Wandi (lembra?) e você mexia em tudo! Eu também adorava a revista Recreio. Ela ainda existe, comprei muitas para minha filha quando ela era pequena.

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